A lista de desejos para o ano que começa é quase sempre farta de missões impossíveis. Em meio a promessas de começar a academia, voltar ao inglês ou comer de forma mais saudável, é comum ter algum ítem relacionado a leitura: “ler mais” ou “terminar aquele livro” são frases conhecidas daqueles que querem adotar uma nova postura no ano que se inicia. Uma tarefa difícil, porque ler não é apenas questão de gosto.
Façanhas como a de Nina Sankovitch, que leu um livro por dia (365 no ano) e retratou a experiência em “O ano da leitura Mágica” (Leya, 2011), ou de Charles Chu, que dá dicas de como ler 200 livros por ano, estão bem longe de atrair uma legião de brasileiros. Eles não mantinham uma rotina comum de trabalho e se dedicaram quase que exclusivamente em completar as metas estabelecidas.
Confira sugestões de leitura do Caderno G.
Quais os livros preferidos dos Curitibanos.
Prática
O resultado da 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura” (2016) ajuda a comprovar que a realidade dos leitores brasileiros está distante dos exemplos de Sankovitch e Chu. A média de livros por brasileiro é de 4,96 lidos ao ano e o critério utilizado pela organização da pesquisa para designar leitor é “aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses”. O mesmo relatório aponta ainda que 30% da população diz não comprar livros e 65% nunca ter ido a uma biblioteca.
Para Marta Morais da Costa, professora doutora da UFPR e especialista em leitura, o hábito é encarado como algo “desimportante para uma sociedade, e os números vexatórios significam que estaremos sempre a reboque de países mais civilizados”. De acordo com as pesquisas acadêmicas desenvolvidas pela professora, falta educação para a leitura, para a formação do gosto e da atividade de ler. “Gosto é um termo perigoso e que conduz uma posição egocêntrica: disto eu gosto, daquilo desgosto”.
Não é uma ação por osmose. Se eu encostar meu braço no livro, o conteúdo dele não entrará em meu cérebro
Coeditor do site Homos Literatus (especializado em literatura), Walter Bach rompe com o pretexto da falta de tempo. “Eu crio tempo para ler”, diz ele, que não deixa de ter prazer na tarefa de ler três livros por semana. “As pessoas devem ter em mente que é um hábito demorado. Contudo não é uma prática exigente e difícil”, ressalta.
O jornalista e crítico literário Yuri Al’Hanati, do site Livrada, conta que começou a ler quando se mudou para Curitiba, há 17 anos. O rapaz lia “para ajudar a passar o tempo”. Em 2015, a Pesquisa Brasileira de Mídia divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República aponta que os brasileiros passam o tempo de outra forma: são 4h31 horas diárias gastas assistindo TV e 5h/ dia nas redes sociais.
Para o professor de literatura Benedito Costa, “a leitura é um prazer que o brasileiro não descobriu”. Na avaliação dele, somente a regularidade, a dedicação e a concentração conseguem garantir a imersão necessária que os livros exigem das pessoas. “É uma comparação simplista, mas eficaz: você não emagrece se vai somente uma vez por semana à academia”, ilustra.
A dica do professor para àqueles que querem pegar o ritmo da leitura diária é começar por contos e poesia e não fixar em completar um número “x” de páginas para “se livrar” da leitura. Repertório, arcabouço, conhecimento da língua, interesse e determinação são características citadas como essenciais pelos professores Marta e Benedito Costa. A dica é não desanimar. “Não é uma ação por osmose. Se eu encostar meu braço no livro, o conteúdo dele não entrará em meu cérebro”, frisa Marta.
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