“Quando era pequena, pegava livros da estante e fingia que estava lendo para minhas bonecas e meu coelho Felipe. Eu inventava as histórias ou repetia aquilo que meus pais tinham lido para mim”, lembra Catarina Bertulucci Trigo, de 9 anos, mais conhecida nas redes sociais como “A menina que indica livros”.
A paixão pelo mundo mágico das letrinhas saltou da imaginação para os mundos virtual e real. Hoje, a pequena Catarina expõe sua opinião sobre os livros que lê em seu canal no You Tube e em sua página no Facebook e também promove piqueniques literários, com objetivo de incentivar a leitura infantil e promover a troca de exemplares.
Tais iniciativas exemplificam o poder da literatura. De acordo com Melina Blanco Amarins, psicóloga clínica do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, inserir a criança no universo literário, além do aprendizado pedagógico, proporciona o desenvolvimento da imaginação, das emoções e dos sentimentos, assim como de uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva.
“O contato com a leitura possibilita a criança desenvolver a linguagem, seja ela verbal ou não verbal, bem como vivenciar situações diárias através da fantasia, podendo ressignificá-las, ou seja, auxiliando na elaboração de seus sentimentos, já que as emoções proporcionadas por meio das narrativas preparam-nas para vivenciarem essas emoções no mundo real, de forma mais racional e equilibrada”, explica.
Estímulos
Muitas vezes, programas de tevê, vídeos games e internet substituem o clássico momento da leitura antes de dormir. Mas para driblar os estímulos que a tecnologia expõe as crianças desde cedo, segundo Lenice Bueno, gerente editorial da Editora Salamandra, os criadores de livros infantis estão sofisticando seus trabalhos de texto e ilustração, criando projetos cada vez mais atraentes.
Mas um bom livro será sempre um bom livro, não importa se clássico ou moderno. O ideal é dar às crianças acesso a uma grande variedade de obras com diferentes formas de narrativas
“Hoje em dia, os livros vêm se sofisticando e a interação entre texto e imagem é cada vez maior, o que desafia as crianças acostumadas a estímulos visuais mais fortes”, conta. “Mas um bom livro será sempre um bom livro, não importa se clássico ou moderno. O ideal é dar às crianças acesso a uma grande variedade de obras com diferentes formas de narrativas”, considera.
A questão é despertar o interesse dos pequenos pela leitura, e as histórias em quadrinhos também têm sido um importante ponto de partida para isso. Foi o que aconteceu com o cartunista e empresário Mauricio de Sousa: “Eu lia gibis e depois comecei a me interessar pelos livros. Lia um por semana”, revela o criador da “Turma da Mônica”.
“Fico orgulhoso de encontrar, a todo o momento, pessoas que dizem ter aprendido a ler com a ‘Turma da Mônica’ quando criança e hoje estão comprando a revista para os filhos, que também começam a se interessar pela leitura com os quadrinhos”, comemora.
Vínculo afetivo
Conversar, ler, cantar. Tudo isso cria um vínculo forte, faz a criança se sentir parte da família, aceita, segura.
Especialistas acreditam na importância do resgate da leitura na rotina diária dos pais com os filhos, já que a iniciativa, além de preparar as crianças para o futuro, fortalece o vínculo afetivo familiar. Ligação, aliás, que deve ser estimulada desde o berço, segundo a premiada escritora de livros infantis Ruth Rocha.
“Conversar, ler, cantar. Tudo isso cria um vínculo forte, faz a criança se sentir parte da família, aceita, segura”, ressalta a autora de 85 anos, que comemora 50 anos de carreira na literatura infantil e coleciona mais de 130 obras publicadas, entre elas “Marcelo, Marmelo, Martelo”, um clássico lançado em 1976 com mais de um milhões de exemplares vendidos.
Isso também é indicado e seguido por Lucília Santana Faria, coordenadora da UTI Pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, não apenas em casa, onde a médica e avó lê de tudo para seus dois netos de 3 e 5 anos, Diego e Luca, mas no hospital, onde os contadores de histórias têm papel fundamental no processo de recuperação das crianças internadas. “A leitura, em qualquer lugar, tem o poder de acalmar as crianças”, assegura a especialista.
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