Em determinados livros de poesia, as partes que se somam geralmente se desentendem. É como se fossem ilhas separadas por muitos quilômetros.
Quando abri “O Livro das Semelhanças”, o terceiro da poeta mineira Ana Martins Marques, isso me arrebentava a cabeça.
Pensava na composição das partes dos livros de poesia e como elas se desencontravam nelas mesmas. Além do imediatismo que sempre me toma: o de encontrar um poema logo no começo que me fizesse enxergar estrelas pretas quando fechasse os olhos.
“O Livro das Semelhanças” não foge do volume de obras que se enquadram no separatismo; que se estendem em mais de uma parte. Mas consegue ser uma única coisa.
“Ainda que não te fossem dedicadas/ todas as palavras nos livros/ pareciam escritas para você”
Mesmo dividida em quatro partes (“Livro”, “Cartografia”, “Visitas ao lugar-comum” e “O livro das semelhanças”), consegue consolidar-se como uma única obra.
A anatomia da obra pode ser dividida, mas ela não te divide na hora da leitura. E isso é extremamente importante para a concepção das coisas; para a tomada de decisão sobre a continuidade da absorção do livro e de como isso acontece.
Ana nos entrega e revela a cartografia do mundo. Parece geógrafa de solidões, amores, viagens, do mar e, até mesmo, dos livros (a metalinguagem é muito presente na primeira parte – quando ela produz poemas sobre as partes que os compõem).
E, mesmo falando dos livros, consegue desenvolver uma teia de comunicação com os outros versos – dizer do que eles são feitos e falar de coisas que nos são próprias ao mesmo tempo.
A substância presente na lírica da autora aumenta o envolvimento do leitor com a obra em seu decorrer.
E isso é o inverso do imediatismo que citei no primeiro parágrafo.
É do todo que se tira a ironia da poeta e toda a sua impossibilidade de arrumar uma mala, sair em viagem e se encontrar. “Sempre acabo tomando o caminho errado/que falta me faz um mapa/que me levasse pela mão”.
Ana Martins Marques. Companhia das Letras, 112 páginas, R$ 33. Poesia.
A impressão é de que ela está sempre procurando algo invisível – como se pesquisasse em todos os mapas-múndi ao seu alcance e não encontrasse absolutamente nada.
E essa vasta procura lhe confere uma sensibilidade incontornável para decifrar lugares não visitados.
“Não sei viajar não tenho disposição não tenho coragem/ mas posso esquecer uma laranja sobre o México/desenhar um veleiro sobre a Índia/pintar as ilhas de Cabo Verde uma a uma/como se fossem unhas/duplicar a África com um espelho/ criar sobre o Atlântico um círculo de água...”.
Ao tratar dessa invisibilidade, o livro é algo como um cemitério de lugares que a autora conserva.
Ganhadora do Prêmio da Biblioteca Nacional em 2012 com o livro “Da Arte das Armadilhas”, Ana Martins Marques é, no mínimo, uma das poetas mais interessantes da literatura brasileira contemporânea.
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