Entre os volumes da coleção School of Life o que se ocupa de refletir sobre Como Lidar Com a Adversidade talvez corresse mais riscos de escorregar no limo da autoajuda. Por sorte, Christopher Hamilton, professor de religião no King’s College de Londres e historiador especialista em Idade Média, teve bom gosto o bastante para evitar o perigo ao olhar pelo monóculo da filosofia as perdas, fracassos, frustrações e dores inevitáveis nas vidas humanas.
O livro é dividido em quatro capítulos, cada um tratando de um dos quatro grupos escolhidos pelo autor de adversidades fundamentais: a família, o amor, a decadência do corpo e a morte.
Hamilton explica no preâmbulo que o fato das adversidades serem inescapáveis da vida dos homens não é um pensamento negativo, mas profundamente libertador, pois nos permite conquistar uma perspectiva realista sobre nós mesmos. E sobre o que podemos fazer para dar sentido – e tirar proveito – em toda a miséria que enfrentamos durante a existência.
A ambivalência das relações afetivas familiares é o ponto de partida. Sabendo que os núcleos familiares na realidade são bem diferentes das imagens clichês publicitárias sobre as família felizes, Hamilton usa Franz Kakfa, Marcel Proust, Freud e Primo Levi para mostrar que não podemos levar esses laços tão a sério a ponto da mão pesada da culpa nos impedir de seguir em frente.
O capítulo que trata do amor é ilustrado com a fábula do filosofo alemão Arthur Schopenhauer que compara os seres humanos a porcos-espinhos. Nos dias de frio, os bichos se aconchegam em busca de calor mesmo tendo a memória que em outras vezes o mesmo comportamento trouxe dor. Para ele, o amor romântico – essa ideia que é uma herança medieval e, ao lado da contemporânea pólvora, espalha sofrimento no mundo desde então – é baseado em dois sentimentos pouco nobres e evitáveis: a raiva e o ciúme.
Christopher Hamilton. Tradução de Bruno Fiuza. Objetiva, 176 pp., R$ 26,90.
Hamilton cita autores que escreveram sobre as próprias doenças do corpo, como John Updike e Samuel Johnson, para provar que conhecer a fragilidade do corpo pode ser também libertador. O capítulo serve de introdução à adversidade extrema: a morte. O livro a encara usando o filósofo grego Epicuro: o fim do mundo é sempre o fim do mundo de alguém e não devemos temer a morte, pois enquanto vivemos a morte não está presente; e quando estamos mortos, nós não existimos para experimentar qualquer coisa.
Muitos dos clássicos da filosofia são intransponíveis e repetitivos a ponto de afugentar leitores descompromissados. A depuração deles – quando bem feita, caso deste livro – é um serviço útil e atraente.
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