Existe a autoajuda salafrária, feita de promessas sobre melhorar sua vida em poucos passos simples e sem nenhum esforço. E existe um tipo de autoajuda que não faz promessas mirabolantes e prefere mais discutir ideias e não oferecer listas com supostas soluções fáceis para problemas difíceis.
São livros que, na forma, têm mais a ver com o ensaio e, quando você encontra um escritor bom, a experiência de ler um livro assim pode terminar com a compreensão de algo novo. É o caso de Gretchen Rubin em “Melhor do que antes – O que aprendi sobre criar e abandonar hábitos”.
O livro tem um subtítulo longo e bem explicadinho, como pede a seção de autoajuda, e chega num momento pra lá de oportuno: ainda é janeiro e as promessas de fim de ano continuam no ar – e elas costumam envolver mudanças de hábitos.
Pergunta
Para avaliar como anda sua vida, Gretchen Rubin sugere questionar a si mesmo: “Ficaria feliz se meus filhos tivessem a mesma vida que eu tive?”. Com filhos ou com alguém querido, é uma boa pergunta.
Gretchen transita por um campo em que Malcolm Gladwell fez fama. Assim como o autor de “Blink” e “Ponto de Virada”, ela usa pesquisas científicas, estatísticas e histórias pessoais para construir argumentos. E também começa com uma pergunta simples: por que é tão difícil criar um hábito bom ou abandonar um ruim mesmo quando você sabe que a mudança faria bem?
Ela se esforça para criar explicações possíveis e monta uma teoria curiosa, analisando as pessoas a partir da forma como elas lidam com expectativas externas (dos outros, como as exigências do trabalho e da vida em sociedade) e internas (as próprias, como comer menos porcaria e dormir mais cedo).
O que aprendi sobre criar e abandonar hábitos. Gretchen Rubin. Tradução de Marcelo Barbão. Fontanar, 312 pp., R$ 39,90. Não ficção.
Existe, por exemplo, o grupo dos “sustentadores”, formado pelas pessoas que “respondem prontamente tanto às expectativas externas quanto às internas”. Se você responde bem às expectativas externas, mas costuma sabotar as internas, seu grupo é dos “condescendentes”.
Esse esforço inicial de classificação leva a autora a elaborar subgrupos e a analisar outras características. Quando fala sobre como alguns funcionam bem de dia (“cotovias”) e outros preferem a noite (“corujas”), ela descreve cenários plausíveis – não adianta uma “coruja” se planejar para fazer exercícios ou estudar pela manhã, ela simplesmente não vai conseguir funcionar direito – e cita pesquisas recentes para explicar como, por exemplo, não é possível se tornar uma “cotovia” usando força de vontade.