| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Qual foi sua participação na adaptação de “O Filho Eterno” para o cinema?

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Não tive nenhuma participação. Aliás, por vontade própria – acho que, ao ser adaptado para o cinema, um livro perde boa parte de sua autonomia literária e se torna obra do diretor. São linguagens bastante distintas, e o olhar do diretor deve ter sua independência respeitada. Uma adaptação é uma espécie de transfiguração de linguagens. Além do mais, o autor é sempre suspeito ao rever sua obra. É preciso um olhar de fora.

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E qual a sua expectativa?

“O Filho Eterno” é a primeira produção de peso baseada numa obra minha. Vi a gravação de algumas cenas e venho acompanhando o filme de longe. Minha expectativa é muito boa – acho o Paulo Machline um excelente diretor, e a escolha dos atores – Marcos Veras, Débora Falabella e o menino Pedro – sensacional.

“O Filho Eterno” é sua obra mais premiada, ao mesmo tempo que tem um caráter autobiográfico. Isso faz com que, de alguma forma, você tenha uma relação especial com o livro?

De certa forma, sim. Talvez menos pelo livro em si, mas pelo impacto que ele teve na minha vida, no sentido prático mesmo. Graças ao livro, pude sair da universidade e passar a viver da literatura. Mas, é claro, tenho de continuar trabalhando, o que sempre é muito bom.

Ao ser adaptado para o cinema, um livro perde boa parte de sua autonomia literária e se torna obra do diretor

Cristóvão Tezza escritor.
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Antes de ir para o cinema, “O Filho Eterno” já havia sido adaptado para o teatro. Na sua opinião, o que faz dele uma obra capaz de dialogar com essas duas vertentes artísticas?

Eu diria que minha literatura tem sempre um pé no teatro e outro no cinema, por assim dizer. Minha linguagem literária, mesmo nos livros mais recentes e estruturalmente mais complexos, como “O Fotógrafo”, “Um Erro Emocional” e “O Professor”, deve bastante à “imagem” [costumo dizer que eu só escrevo o que eu vejo…] e à oralidade [gosto de ler em voz alta o que escrevo, para testá-los “na vida real”]. Lembro que a adaptação de “Trapo” para o teatro, nos anos 90, foi de uma simplicidade espantosa – parecia que eu tinha escrito uma peça de teatro e não um romance. Já a adaptação de “O Filho Eterno” ficou a cargo do Bruno Lara Rezende, que fez um trabalho maravilhoso.