O jornalista Roberto Pompeu de Toledo fala sobre o desenvolvimento da “Terra da Garoa” no livro recém-lançado “A Capital da Vertigem: uma História de São Paulo de 1900 a 1954”.
O período abordado representa uma transição brutal entre a cidade provinciana e o começo da maior metrópole do continente sul-americano. Ele apresenta cenários sociais, políticos e econômicos que ajudaram São Paulo a se tornar “espelho do Brasil”.
Veja imagens de São Paulo entre 1900 e 1954
Toledo participa da Festa Literária Internacional de Paraty, na próxima sexta-feira (3), ao lado do escritor Carlos Augusto Calil. Os dois vão falar sobre a capital paulista ligada à obra de Mário de Andrade (1893-1945), o homenageado deste ano.
“A Capital da Vertigem” é um retrato da São Paulo entre 1900 e 1954. Qual é a sua conclusão sobre a cidade desse período?
Minha conclusão é que ela é uma cidade vertiginosa. Os 50 anos deste valem muito mais do que três séculos e meio anteriores, em matéria de velocidade, perspectivas que se abrem, enriquecimento, e a cabeça das pessoas. As pessoas também começaram a perceber que as coisas estavam acontecendo em flagrante contraste com a pasmaceira dos séculos anteriores. O que é muito notável nessa história é como a transição se dá de uma maneira tão rápida e brutal em São Paulo. São os anos vertiginosos.
O livro traz histórias de personagens importantes. Essas pessoas são também a história de São Paulo?
Sim. Uma cidade é feita da história de seus personagens, entrelaçando a vida de pessoas de diversos setores, como Assis Chateaubriand, magnata da imprensa, que não é um personagem apenas paulista, Mário de Andrade, de políticos como Washington Luís, administradores importantes, enfim, essas pessoas todas deixam seu rastro na história da cidade. Acho que isso que faz com que a narrativa seja fique mais próxima do leitor e fornece um contato mais sensual e sensorial com a história.
São Paulo desse período concentrou os episódios mais importantes do Brasil na época?
Acho que é uma parte, mas não a mais importante. São Paulo de hoje espelha mais a história do Brasil do que aquela. A São Paulo de hoje tem representações muito grandes, tem parcelas de todo o Brasil. É a maior sociedade de nordestinos fora do Nordeste, a maior sociedade sulistas fora do Sul, a maior comunidade libanesa fora do Líbano, e assim por diante. Hoje sim São Paulo é um espelho do Brasil. Naquela época, ainda estava mais para província. É no final do período do livro, depois de 54, que ela passa o Rio de Janeiro, que, até então, era a caixa de ressonância do Brasil. As coisas tinham que passar pelo Rio. Nesse período, a capital paulista se afirmou, mas ainda não resumia o país.
Roberto de Pompeu Toledo. Objetiva, 584 pp., R$ 59,90 e R$ 29,90 (e-book).
As transformações urbanísticas e arquitetônicas de SP também dizem muito sobre a cidade em seu livro...
Eu acho que São Paulo teve duas grandes reformas urbanas neste período. A primeira é quando realmente São Paulo resolve deixar a feição da cidade colonial. É uma reforma que atualiza a cara da cidade. A segunda mudança, que é nos anos 30, já é uma preparação para uma vida de metrópole. Rasgam-se grandes avenidas para facilitar a circulação e expansão da cidade. E esse desejo de reformar muito radicalmente a cara da cidade também mostra um pouco aquele sentido de vertigem que eu atribuí.
O livro é um aprofundamento muito grande em detalhes. Como foi mergulhar na busca por estes documentos?
Eu não sou historiador. Não tenho formação em história e não é minha especialidade nem a minha intenção descobrir documentos novos ou formular teorias a partir de novos indícios históricos. A minha intenção é transformar a história em uma narrativa. Sou um narrador da história. A grande massa das informações que eu usei para escrever a obra já estão por aí, em livros, na imprensa. A imprensa foi uma coisa crucial. Nesse período, ao contrário do período do livro anterior, já tinha imprensa. Você pode hoje fuçar o arquivo dos jornais no seu computador. E os documentos estão disponíveis e grande parte deles já foram manipulados pelos historiardes. Minha tarefa, não que seja menor, até porque é muito complexa, foi achar estas informações, reuni-las, obedecer a um fio condutor e fazer com que tenham sentido.
Houve reação negativa historiadores, que questionam este tipo de trabalho feito por jornalistas?
Não. Diretamente não. Mas também não ficaria surpreso se houvesse. O que eu vou fazer? Se ficarem chateados, paciência. Ninguém é dono da História. E eu parto de uma perspectiva distinta dos historiadores. Ninguém está impedido de fazer nada.
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