Assim como a protagonista, escritora tem uma mãe que se aproxima dos 100 anos.| Foto: Lailson Santos/Divulgação

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgados no ano passado, o grupo da terceira idade corresponde a 12% da população no Brasil, mas esse número saltará para 30% em 2050. A questão da longevidade é, portanto, presente, muito embora pouco assimilada. No romance “A Mãe Eterna”, a psicanalista Betty Milan apresenta com bom humor e franqueza um aspecto desse tema que pode ser doloroso: o processo de envelhecimento dos pais e a consequente inversão de papéis. De filhos, nos tornamos pais dos pais. Os responsáveis pelo bem-estar e integridade de um ser que, não importa o momento, não estamos educados para nos despedir. O livro está na segunda edição e foi vendido para editoras de Portugal e Espanha.

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A narradora, como a própria Betty, tem uma mãe de 98 anos de saúde extremamente frágil, mas que segue com a mente ativa: prega peças nos filhos, dispensa as enfermeiras e tenta fugir ao controle de sua nova “mãe”.

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Esse papel , diz Betty, filha de Rosa, é algo difícil de escapar. “Não vejo como deixar de ser a mãe da mãe quando a velhice extrema ou a doença terminal impõem isso. Vale tanto para a filha quanto para o filho. Agora, nem todo mundo consegue fazer a passagem, porque ela é difícil. Foi precisamente por causa desta dificuldade que eu escrevi o romance”, conta a psicanalista.

No livro, a protagonista tem um irmão que não se envolve com os cuidados com a mãe e até faz pouco da preocupação que a irmã demonstra, um contraponto que fala um pouco sobre como as mulheres podem ser cobradas a serem maternais, independentemente de terem filhos. “A cobrança conta, mas não explica tudo. Meu filho, por exemplo, é uma das pessoas que mais cuida da minha mãe. A personalidade conta e muito. O papel materno pode ser desenvolvido por um homem e por uma mulher. Como, aliás, o papel paterno. É independente do sexo biológico”, explica Betty.

Morte

O livro aborda também o tema do suicídio assistido e a necessidade de rever a noção de morte que costumamos ter. É preciso começar a nos preparar para a despedida aos poucos, antes mesmo dos primeiros sinais de velhice. “Acho que se despedir em vida é possível e benéfico. Para isso é preciso não negar a morte. Tendemos a negá-la por acreditar que a negação nos protege. Mas o que de fato protege é a consciência da morte, que é um dos temas de ‘A Mãe Eterna’. Sou médica e filha de médico, predisposta, portanto, a não evitar o tema”, explica.

Apesar de novo e complexo, esse momento não é só de perdas. “O que a gente ganha é um aprendizado novo sobre o ser humano e sobre a vida. O idoso é um ser particular que eu comparo, no meu livro, ao poeta, porque ele tem muitas licenças. Quem lida com ele, aprende a respeitar as licenças e aprende a paciência, que é fundamental para viver”.

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