Eduardo Galeano era tão fantástico – não só no sentido literário da palavra – que até a política, com ele, bambeava das pernas. A esquerda, por exemplo, adquiria outro sentido. Na pena do uruguaio, funcionava não como posição ideológica segregadora. Era sinônimo de resgate e respeito a uma tradição cultural antiga, a uma memória coletiva da América – com especial atenção às histórias dos povos indígenas. Por meio de uma poética humanista, Galeano, como um Chronos ameríndio, transformou causos andinos em histórias politizadas. Foi assim que seus textos adquiriram importância social contemporânea.
O Livro dos Abraços (1989), é exemplar. Resultado das viagens de um escritor que sabia ouvir de tudo, é a obra de maior expressão emocional e (ao mesmo tempo) ideológica do uruguaio. Textos curtos como “O Mundo”, em que um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, sobe aos céus e repara que somos todos um mar de fogueirinhas – “existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores” – funcionam, paradoxalmente, como literatura sem ambição literária. É o tema (a vida) que importa. É o conteúdo dando de goleada na forma, o trunfo do espírito. No mesmo livro, textos sobre a burocracia – pense num O Processo mais direto e visceral –, a função da arte, a fome e a televisão terminam por criar esse panorama original e contundente, em que a política torna-se, enfim, parte da vida de todos.
Ah, em um de seus raros textos autorreferentes (“Celebração de Bodas da Razão com o Coração”), Galeano saiu-se com essa, providencial neste estranho momento de despedida: “Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos?”.
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