Foram aproximadamente 16 horas de leitura e dor autoimposta, apimentadas por alguns momentos de descrença, esses de não acreditar no que se está lendo: “Você. É. Muito. Gostosa. Eu. Quero. Você. Muito. Você. É. Minha”.
Li “Grey” antes de “Cinquenta Tons de Cinza”. Atravessei o primeiro livro da série um tanto incrédulo de que a autora repetiu mesmo trechos inteiros em “Grey”, sem o menor pudor. O moço, ao menos, é um narrador irritante. Anastasia, a virginal, é de uma falta de criatividade semelhante a um adolescente reclamando dos pais.
De todo modo, são diversas páginas de clichês no livro novo, ligações de palavras irrisórias e alguns momentos singelos, como aquele em que a protagonista começa a se enamorar. Há paralelos com os primórdios do romantismo do século 18, com a diferença que o jovenzinho Goethe era mais empolgado: “Quando nossos dedos se tocam, sinto um arrepio me percorrer. Retiro a mão, envergonhada”.
E.L. James escreve demais, explica demais e investiga a natureza humana de menos. Enfatiza-se a todo momento que Grey não se trata de um romântico clássico, “Anastasia – sussurro –, você deve ficar longe de mim. Eu não sou homem pra você”. Contudo, todas as ações de possessão e descontrole correspondem exatamente ao joio de tudo o que é o romantismo. É ciúme barato com flores para uma flor.
Acontece da britânica travestir mal suas verdadeiras intenções. Ela quer construir um príncipe encantado moderno, na contramão da independência feminina. Mesmo quando Grey baixa a bola, o que ela quer dizer é que o homem para a vida toda ainda pode se regenerar, uma mulher sem um homem para a vida toda não pode ser.
O sexo
As sessões de sexo pesado não trazem nada de novo ao front, embora seja covardia compará-las literariamente com cânones como Anaïs Nin, Marguerite Duras ou até mesmo o nosso Reinaldo Moraes de “Pornopopeia”.
Falta a James uma mão mais leve, elegância e contundência, maior domínio de sensações, capacidade de lidar com o dito e o não-dito, vontade de fugir de explicações rasas. “Isso é tudo o que você quer de mim: meu corpo? – pergunta ela. – Seu corpo e essa sua boca rápida.”
A autora faz questão de esclarecer que o sadismo de Grey é resultado dos traumas ligados a uma mãe prostituta, viciada em crack, e a uma relação abusiva no passado. O sexo que interessa, para James, é o “baunilha” – sem fetiches, normatizante.
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