Leticia Wierzchowski – “a Leticia de A Casa das Sete Mulheres”, como ela mesmo diz ser seu epíteto – tem o coração nas mãos. Por isso, produz textos capazes de criar rapidamente uma relação de intimidade com o leitor. “Todo o romance tem que ter uma alegoria para fazer o leitor pensar em alguma coisa”, explica.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, a escritora contou que vive a própria vida dividida entre a ficção e a realidade e que andar por esses dois caminhos, longe de ser incômodo, é sempre sinônimo de alívio: “escrever é uma coisa curativa”, diz.

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“Navegue a Lágrima”, de Leticia Wierzchowski, desafia a realidade

Navegue a Lágrima é uma história sobre amores separados no tempo

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É uma história de amores e perdas, mas que foge do comum. Como é seu processo para pensar em novas formas de tratar estes assuntos?

Geralmente começo uma história ou a partir de um personagem ou de um determinado sentimento, algo que eu tenho vontade de iluminar. Todo autor sempre está falando de algum assunto, sobre a vida, sobre a morte, amor, destino, talentos. Sempre tem uma questão. E todo o romance tem que ter uma alegoria para fazer o leitor pensar em alguma coisa. No caso de Navegue a Lágrima tem a passagem do tempo, as maneiras como as famílias se constroem, se desfazem e se constroem novamente. Pensei muito na frase que abre Anna Kariênina [Liev Tolstói, clássico da literatura russa]: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz a sua maneira”. Também fiquei pensando um pouco sobre a felicidade, em como ela se se constrói a partir de pequenos momentos que vão se entrelaçando. E tem a questão da casa, de falar sobre o que as casas guardam. Sempre me interessei muito por essa questão e, no livro, a alegria que a casa guarda ajuda a personagem e se curar também.

Esse novo romance, com alguns outros seus, traz um pouco do realismo fantástico...

É uma brincadeira. Será que ela [Heloísa, a personagem principal] viu isso mesmo? Essa fusão entre ficção e realidade faz parte da minha vida o tempo inteiro. Nos últimos 15 anos estive sempre com algum romance em andamento. A minha vida, na verdade, é divindade entre ficção e realidade. Tenho minha casa, meus filhos, minha família, minhas tarefas como dona de casa, mas tenho um tempo do meu dia que vou para outro espaço, que é a ficção. Ela vaza para dentro da minha vida de uma maneira tão natural que me interesso em brincar com isso. E não deixa de ser um diário codificado de minha própria vida. Estou sempre andando por dois caminhos e isso é um alívio. É uma coisa curativa.

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Navegue a Lágrima reafirma sua narrativa lírica, bonita e suave. É um estilo que você procura manter sempre?

Alguns livros, como Netuno, que tem a história de um jovem que mata a namorada, trazem uma linguagem mais seca, mais masculina. Mas em Navegue a Lágrima estou o tempo inteiro lidando com um ambiente intimista, e precisava de uma suavidade que permitisse essa viagem entre os dois mundos. Tem que tem um narrador que leve o leitor com maciez de um espaço para outro.

Qual dos estilos é mais fácil para você?

Depende da história. Para mim é mais fácil essa escrita mais suave. Tenho um jeito mais orgânico de conta histórias.

Você ainda é muito conhecida por A Casa das Sete Mulheres ou acha que suas demais produções também te colocaram no cenário literário brasileiro?

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Eu acho que A Casa das Sete Mulheres foi uma coisa muito benéfica, no sentido e que me abriu muitas portas. E também ganhei muitos leitores com o livro, que, na época foi o livro mais vendido durante quatorze meses. Desses leitores, uma parcela pequena permanece. Mas, sim, é um epíteto “a Letícia de A Casa das Sete Mulheres”. Mas não tenho rancor, de forma alguma.