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A autora catalã Milena Busquets | Divulgação
A autora catalã Milena Busquets| Foto: Divulgação

Em 2012, a mãe da escritora barcelonesa Milena Busquets faleceu. Nos anos seguintes, seu luto vira livro. Isso também vai narrar a história de Blanca, personagem que passa por uma situação parecida a de sua criadora, e como ela vive seu período de dor.

Blanca tem 40 anos quando a mãe morre por decorrência de uma doença que já a atormentava por dois anos. Com essa ausência, a protagonista se vê obrigada a amadurecer e abandonar o complexo de Peter Pan com que viveu até então. A realidade se abate e a personagem se pergunta o que fará sem sua mãe por perto.

Agindo mais por instinto que reflexão, Blanca se vê em uma busca desenfreada pelo sentido da existência. E para ela o oposto da morte não é a vida — é o sexo. “Que eu saiba, a única coisa que não dá ressaca e que dissipa momentaneamente a morte — e a vida também — é o sexo”, diz a personagem enquanto narra sua história.

Qual será a etiqueta para flertar num cemitério? Ele virá me dar

os pêsames? Acho que não. Covarde

 Trecho do livro “Isso Também Vai Passar”

Sua busca, portanto, envolve paisagens idílicas na praia mediterrânea de Cadaqués e seus filhos, amigos e ex-maridos, um time de pessoas que deve ajudá-la a superar sua recém encontrada solidão.

Assim, a intensa dor de Blanca tem cor de sol, gosto de sal e um algo que lembra Françoise Sagan ou até Elena Ferrante. Além de narrar a viagem do grupo, Blanca relembra momentos que viveu com a mãe, como foi viver com ela durante tantos anos e até dirige frases a ela, como se a mãe fosse capaz de escutá-la.

Isso também vai passar

Milena Busquets (Cia das Letras), 144 pgs, R$ 34,90

Um dos atrativos do livro é a voz sincera da protagonista, que não tem medo de dizer verdades — nem quando essas verdades depõem contra si mesma — e viver sua vida sem pensar nos padrões. O que ela não quer é ter que pensar nas consequências do que faz, e adia isso por todas as páginas. Talvez seja uma característica de uma geração que se recusa a envelhecer. Ainda assim, o desenvolvimento dos personagens é breve e acelerado, gerando inconsistências eventuais no decorrer da narrativa.

Ao mesmo tempo que o livro fala sobre a dor da perda, ele fala sobre a vida que permanece depois da morte de alguém - os relacionamentos que continuam acontecendo, o sol que continua a brilhar. Depois de algum tempo, as pessoas ao redor de Blanca parecem se cansar da permanência dela no luto, evidenciando ainda mais seu sentimento de solidão. A situação e o fim do verão levam ao desfecho da história, com um final que beira vários clichês.

Livros sobre dor e perda são normalmente bonitos e fáceis de gerar identificação. Afinal, quem nunca perdeu alguém querido? É fácil se seduzir pela escrita de Busquets. Hoje ela é uma estrela em ascensão. Os direitos do livro foram vendidos para mais de trinta países. Ela é a estrela da feira do livro de Buenos Aires — onde também participam Mario Vargas Llosa e J.M. Coetzee, dois vencedores do Nobel. Mas é difícil dizer se depois de tirar o cenário, a dor e a personagem irreverente o que sobra é literatura.

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