Autores para quem as doenças – do corpo ou da mente – são parte de seus escritos estarão neste ano na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece de 29 de junho a 3 de julho, na cidade fluminense.
A escritora paulista Tati Bernardi, 36, e o poeta fluminense Ramon Nunes Mello, 32, estão entre os confirmados na 14.ª edição do evento literário.
Tati acaba de lançar “Depois a Louca Sou Eu” (Companhia das Letras), no qual relata suas fobias -e, em maior grau, suas crises de pânico. A autora também conta sua relação com os remédios para controlar a ansiedade.
“Fiquei ansiosa quando me convidaram, claro, mas decidi que só vou enlouquecer com isso quando chegar mais perto”, ri Tati.
Depois de lançado, o livro chegou a ficar duas semanas na lista de mais vendidos da Folha de S.Paulo -primeiro em sexto e depois em sétimo lugar.
“Estou feliz com a carreira do livro até aqui, as críticas têm sido boas. O que eu falo é engraçado, mas é literatura”, afirma a escritora, cujo livro, para além dos ansiolíticos, apresenta a própria literatura como salvação.
Nunes Mello, poeta conhecido da cena literária carioca, divulga na Flip “Há um Mar no Fundo de Cada Sonho”, livro de estreia do selo de poesia Aniki Bobó, da editora Verso Brasil.
O livro, que será lançado no dia 11, às 19h, na Livraria Blooks do Shopping Frei Caneca, marca a volta do autor à poesia após quatro anos.
Performance
“Não tinha coragem de publicar, pois a questão de ter contraído o HIV não estava muito bem resolvida na minha vida”, diz o poeta, que sabe ser portador do vírus desde 2010.
O escritor conta que se sentiria “um impostor” caso escrevesse um livro omitindo sua história com a doença.
Ele decidiu publicar depois de escrever no blog do deputado Jean Willys na revista “Carta Capital”, em dezembro do ano passado, para falar publicamente do HIV.
Tati não sabe ainda de qual debate vai participar.
Já Ramon será parte de uma mesa sobre poesia e sua relação com a performance. Nunes Mello não nega um viés místico. Em um poema, a frase “semelhantes curam” é repetida como um mantra.
“Depois do HIV, passei a ter uma relação mais espiritual com a vida, e isso se reflete na forma como escrevo”, que depois de saber que contraiu o vírus passou a tomar o ayahuasca e a se interessar pela cultura indígena.
Programação
Além dos dois, a Flip já confirmou a presença da bielorrussa Svetlana Alexievich, Nobel de Literatura de 2015, que lança este mês “Vozes de Chernobil” (Companhia das Letras).
Além dela, está confirmado também o americano Benjamin Moser, que lança “Auto-Imperialismo” (Planeta), com três ensaios sobre o Brasil, e o volume “Todos os Contos”, com as histórias curtas de Clarice Lispector, edição que foi sucesso no exterior, mas ainda não existia no Brasil.
O jornalista Caco Barcellos, que lança esta semana “Profissão Repórter, 10 anos “Grandes Aventuras, Grandes Coberturas” (Planeta), também tem presença confirmada.