Matthew Quick. Tradução: Viviane Diniz. Editora Intrínseca, 272 páginas, R$ 34,90.
Na década de 90, o escritor inglês Nick Horby definiu uma geração com seus livros cheios de referências pop e humor sarcástico. “Febre de Bola”, “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto” apresentaram um mundo de referências sobre música e esporte, venderam milhões de livros pelo mundo e foram adaptados para o cinema com atores como John Cusack e Hugh Grant.
Ao passo, porém, que a estrela de Hornby se apagou e parecia que ninguém ocuparia seu lugar, eis que outro fenômeno pop-literário surge: Matthew Quick. Quick entrou no mercado em 2008 com o livro “O Lado Bom da Vida” (adaptado para o cinema em 2012) e desde então lançou outros cinco, mantendo a herança de Hornby de usar referências culturais e esportivas e acrescentando personagens com uma forte (e por vezes traumática) bagagem emocional.
Seu novo lançamento no Brasil é “Garoto 21”, livro com uma temática mais adolescente, lançado lá fora em 2012. O personagem principal e narrador do livro, Finley, é um adolescente que mora em uma cidade marcada pela violência da máfia irlandesa nos EUA. Sua energia é descarregada no basquete, que pratica como uma alternativa para a sua vida.
Sua rotina muda quando seu treinador pede que ele ajude Russ, aluno novo que foi transferido depois de ter sofrido um grande trauma emocional. Por mais que a relação dos dois seja forçada e até improvável no início, eles se aproximam cada vez mais até que se tornam capazes de transformar a vida um do outro. Quick cria dois personagens que tinham muito para se odiar, mas que se unem por entenderem a dor e o sofrimento um do outro.
São várias as referências que o autor usa no livro. Além do basquete, os personagens se interessam por música e pelo espaço, que servem como válvula de escape para vários sentimentos e aflições que sentem - Russ, por exemplo, cria uma fantasia extraterrestre para explicar o assassinato recente de seus pais e imaginar quanto voltará a encontrá-los.
“Garoto 21” mostra uma das principais características da obra de Quick: personagens que passam por algum trauma ou evento trágico e, de uma forma ou de outra, se separam da realidade imediata. É o mesmo que vimos em Pat Peoples de “O Lado Bom da Vida” e Leonard Peacock, do livro “Perdão”.
Recepção
Essa mistura de referências com personagens depressivos parece agradar o público: o livro foi eleito como um dos dez melhores livros de ficção jovem pela lista YALSA em 2012. Já “O Lado Bom da Vida” foi traduzido para cerca de 30 línguas e terminou o ano de 2013 como o 12º livro mais vendido no Brasil de acordo com o site especializado Publishnews.
“Existe algo que me acalma quando leio algo do Matthew Quick. Os personagens são reais, gostam de várias coisas que eu gosto também, mas muitos passaram por problemas grandes. Fico sempre com a sensação de que vai ficar tudo bem, que sempre podemos nos superar”, diz Maria Eugênia Castro, estudante de psicologia e fã de Quick.
Assim como Horby, Quick também faz sucesso no cinema. “O Lado Bom da Vida” foi filmado em 2012 e rendeu oito indicações e uma estatueta do Oscar. Além disso, o livro “Love May Fail” está em processo de adaptação.
Autor
Quick é americano e trabalhava como professor de literatura no ensino médio, mas largou tudo para conhecer cenários exóticos, como a Amazônia peruana e a África Meridional. O retorno para os EUA fez com que o autor mudasse de carreira e se dedicasse à escrita.
Trecho do livro
Como sou só uma criança, meu pai me dá uma daquelas bolas de basquete menores e abaixa o aro ajustável da tabela. Ele me diz para treinar arremessos até marcar cem cestas seguidas - o que me parece impossível - e volta para dentro de casa para cuidar do meu avô, que recentemente teve as pernas amputadas e voltou do hospital agarrado ao rosário da minha falecida avó. Nossa casa anda silenciosa faz um tempo, e sei que minha mãe não vai voltar. Mas não quero pensar no que aconteceu, então faço o que meu pai mandou.
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