Muitas das decisões e ações do exército alemão na Segunda Guerra Mundial foram tomadas sob o efeito de drogas.
No livro “Blitzed”, o escritor alemão Normam Ohler revela uma antes nunca contada relação do terceiro Reich com o abuso drogas e como isso mudou o curso da história.
Cocaína, heroína, morfina e, acima de tudo, metanfetaminas foram largamente usadas por soldados e pelos comandantes nazistas.
Blitzed
Publicado na Alemanha no ano passado, O título do livro em alemão “Der totale Rausch” (“O delírio total”, em tradução livre), de faz alusão a ideia referência da “guerra total”, (Der Totale krieg) expressão criada pelo ministro nazista da propagada Josef Goebbels.
Em inglês, o livro se chama “Blitzed”, gíria que designa alguém sob efeito de drogas e faz alusão às “blitzkrieg”, tática de guerra do exercito nazista.
O livro será lançado no Brasil pela editora Planeta até o fim do ano.
O livro mostra que o uso do Pervitin pelos soldados alemães explica parcialmente a vitória alemã até 1940. A droga foi desenvolvida e patenteada pelo governo alemão.
Ao menos duas campanhas vitoriosas — a invasão à Polônia em 1939, e à França no ano seguinte — foram feitas por soldados e generais doidões.
A diferença é que, no segundo exemplo, a ação foi organizada pelo estado-maior nazista.
“O ataque à Polônia foi um grande caos. Todo mundo tomou Pervitin sem prescrição. Isso mudou na invasão à França, quando 35 milhões de doses foram ministradas aos soldados para tornar a Blitzkrieg possível”, explica Ohler .
Enquanto os soldados “trincados” se matavam nas trincheiras, Hitler e seu séquito se entregavam a coquetéis de estimulantes, administrados por seu médico pessoal Theodor Morell.
Personagem secundário em biografias do líder nazista, o Dr. Morell é a figura central do livro. Ohler teve acesso ao arquivo do médico, incluindo as receitas e prontuários do führer.
A metanfetamina largamente consumida nos fronts alemães.
Farsa e hipocrisia
Para o autor, as descobertas só reafirmam que o nazismo foi sobretudo tudo uma grande farsa.
“Os nazistas proibiram as drogas. O discurso falava de pureza e condenava os tóxicos. Mas, então o Pervitin foi desenvolvido e usado ao extremo nos campos de batalha”.
Hitler, por sua vez, um vegetariano que bradava contra a degeneração moral em público, usava centenas de injeções de hormônio animal e mais tarde se viciou em Eukodal, produto farmacêutico semelhante a heroína. “O Nazismo era uma grande hipocrisia”.
A toxicomania do Terceiro Reich surge, segundo Ohler, num país em que a indústria farmacêutica era uma das mais importantes; a Alemanha era o principal exportador mundial de opiáceos e as drogas estavam disponíveis em cada esquina na Berlim dos anos 1920.
Na época, a cidade era uma metrópole mundial, boêmia e intelectual, berço da diversidade e permissividade sexual.
O desemprego em massa após o colapso financeiro mundial de 1929 possibilitou o surgimento de uma figura como Hitler, com um discurso veemente contra a degeneração moral. Porém, como costuma acontecer, o moralista tinha uma vida secreta junkie.
História cega
Ohler conta que escutou de um amigo, um DJ do underground de Berlim, que os nazis usavam muitas drogas.
“Como me tornei um escritor para ajudar que coisas como o terceiro Reich nunca mais aconteçam de novo, soube que tinha achado o tema para o meu novo livro”.
Ele chama atenção para como este assunto — a ingestão de tóxicos e seus efeitos — fundamental para decidir sobre a imputabilidade dos atos praticados diariamente pelas pessoas é, em regra, ignorado pelos livros de história.
“Historiadores são cegos quanto este tema. Espero que isso mude dramaticamente após o meu livro. As drogas influenciaram a maioria dos momentos da história. É preciso pesquisar a fundo este tema na história.”
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