Lançamento de “64 Peças” acontece nesta sexta-feira (18).| Foto: Faena Rossilho/Divulgação

Ivan Justen Santana era o melhor poeta curitibano sem livro. Não é mais. Agora, com o lançamento de “64 Peças” na Livraria Arte & Letra (Al. Pres. Taunay, 130) nesta sexta-feira (18), a partir das 19 horas, pode-se dizer, em uma nova instância de análise, que Santana entrega um significativo apanhado de sua trajetória de mais de 25 anos de escrita, um conciso acerto de contas com seus interesses artísticos e formais.

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A poesia de Santana não é exatamente acessível, mas não opera no terreno do hermetismo. Interessa mais ao autor o estudo dos formatos, das sonoridades, a busca por empurrar o texto à frente sem deixar de prestar homenagens às bases, como em “Marcos Prado desce aos infernos”: “Sem dar pelota às descrições de Dante, / as quais, aliás, ele já traduzira em trio, / Marcos Prado baixou no inferno delirante, / cego de álcool num infinito vazio”.

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Num plano mais horizontal, afora um e outro exercício improdutivo, os poemas de 64 Peças transitam entre a formação acadêmica do autor, mestre em Letras e doutor em Estudos Literários, e a sua acuidade visual e crítica com o processo de construção textual. Tudo com uma dose boa de ironia: “Parte de mim sente um ódio brutal / sempre que lê as coisas que escrevi; / - Como você pôde, pobre animal, / matar o lirismo que estava ali? –”, diz em “1,2,3,4... , 31”.

Em “Autoautópsia com grafias”, ele resgata episódios de sua infância. Um trecho específico demonstra o potencial lírico do autor e tradutor e pode ser colocado como uma das melhores definições recentes sobre a infância: “Pesadelo com águas jamais tive / (as águas talvez sejam a memória-imagem / mais íntima da vida em sua origem)”.

64 Peças entrega um percurso deliberadamente intelectual, de Dante a Violeta Parra, sem amedrontar leitores de primeira viagem. Embora a concentração de linguagem (e referências) seja o trunfo da poesia.