Você faria um suco natural em casa, de pouco mais de 300 mililitros, e adoçaria com nove colheres de chá de açúcar? Provavelmente, não. É essa a quantidade que uma lata do refrigerante mais popular do mundo, a Coca-Cola, tem de açúcar. E não se anime se você pensar nos sucos “naturais” de caixinha: eles são tão doces quanto.
O refrigerante – e outros produtos ultraprocessados – como biscoitos recheados, salgadinhos e refeições congeladas são estrategicamente formuladas para causar compulsão em seus consumidores. E continuar movimentando uma indústria trilionária, que se aproveita sobretudo de pessoas com baixas renda e instrução, quase sem informações sobre o que comem, para seguir lucrando.
US$ 1 Trilhão
É quanto a indústria de alimentos processados movimenta todo ano, aproximadamente. O sucesso do vício em comida barata tem uma tática cruel: ele se aproveita da desigualdade.
Enquanto isso, uma epidemia de obesidade afeta 2,1 bilhões de pessoas no mundo. Sim, o sedentarismo exerce uma boa influência sobre esse dado. Entretanto, os grandes conglomerados que se dedicam a pensar novas e viciantes fórmulas têm muita culpa.
Eles aproveitaram esse frenesi da “vida moderna”, onde se pensa que não existe tempo para mais nada, e criaram produtos convenientes, que fazem com que as pessoas fiquem longe da cozinha, e muito perto das prateleiras periféricas do supermercado – que vendem os piores alimentos. A estratégia se baseia no comportamento do consumidor, que tem por hábito começar as compras “de trás para frente”.
Filmes
A repórter Isadora Rupp faz uma seleção de documentários que investigam a indústria alimentícia, disponíveis na Netflix e no YouTube
Leia a matéria completaTodos esses truques da indústria estão minuciosamente detalhados no livro-reportagem “Sal, Açúcar, Gordura”, do jornalista investigativo Michael Moss, vencedor do Pulitzer em 2010. A obra, lançada nos EUA em 2013, saiu neste mês no Brasil, pela editora Intrínseca.
O americano Moss passou anos acompanhando fábricas e conversando com seus maiores executivos e gênios do marketing, especialistas em criar novas necessidades.
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É o número de colheres de chá de açúcar que um americano consome diariamente. O adoçante é considerado a “galinha dos ovos de ouro” da indústria, que produz, por exemplo, cereais cuja composição é 50% açúcar.
O maior contrassenso que descobriu, e que talvez sirva de alerta principal para evitar ao máximo esses produtos, é que nenhum desses chefões consomem o que produzem. Howard Moskowitz, considerado “o” engenheiro de refrigerantes, por exemplo, se recusa a bebê-los.
A mágica por trás de todo o sucesso, nos conta Moss, é a combinação perfeita dos três itens que intitulam o seu livro. É ela quem nos dá a chamada “sensação bucal”: ela impede a satisfação, e ainda nos encoraja a buscar mais desses alimentos.
Tanto a coca-cola quanto a popular Oreo foram formuladas para ter sabor “equilibrado”. Isso é proposital, porque nosso corpo detecta saciedade mais facilmente com comidas condimentadas, por exemplo. Não é isso que a indústria deseja.
Quando pensamos que o governo e suas agências regulamentadoras possam ser uma salvação do consumidor, descobrimos os frequentes lobbys do governo em prol principalmente de pecuaristas – seus lucros acabam respingando e influenciando as políticas públicas.
Michael Moss. Tradução Andrea Gottilieb de Castro Neves.
Intrínseca, 512 pp.; R$ 49,90 e R$ 34,90 (e-book).
O resultado é que, enquanto estudos considerados conclusivos da Universidade de Harvard mostram que as pessoas deveriam evitar ao máximo carne vermelha, queijo e laticínios, o governo incentivou o consumo até nos guias alimentares.
A indústria aproveitou para usar e abusar desses ingredientes repletos de gordura saturada.
Assim como é “impossível comer um só”, é também impossível parar de ler o livro de Moss. Depois de todos os dados e maracutaias mostradas pelo autor, não olhamos mais para um supermercado da mesma forma.
A obra é um sinal de alerta. Moss ensina: pense no supermercado como um campo de batalha cheio de minas terrestres. E lembre-se de que o consumidor tem o maior poder :o de escolha.
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