A forte relação com a música talvez ajude a explicar o lirismo presente em Desperdiçando Rima, livro de estreia da baiana Karina Buhr.
Cantora e compositora de carreira consolidada, Karina – que já mostrava intimidade com a palavra em colunas de revistas brasileiras como TPM e Carta Capital – chega com uma obra ímpar, na qual a falta de unidade é o maior estilo da obra.
Negando temas e linearidade, a cantora, e agora escritora, mistura nas páginas do livro música, poesia, cartas, recados, bilhetes, desenhos e suas graciosas crônicas.
Como surgiu a proposta de fazer e publicar Desperdiçando Rima?
A editora Rocco me convidou pra fazer um livro e topei. Comecei a partir de alguns textos meus publicados na Revista da Cultura, modificando um pouco eles e depois parti pra escrever a maior parte do livro, que é inédita, e também a fazer as ilustrações.
Seus textos são livres. Não seguem temas, tamanhos ou estilos. Mas, existe um processo para criá-los ou são ideias de momento?
Existe um processo pra cada um, junto com ideias de momento. É daí que surgem textos, poesias. Daí que viram livro. Acho que o importante é o que fica pronto.
O que a música e a literatura têm em comum?
São bem diferentes. Passam a ter algo em comum quando uma letra vira música.
Há um senso crítico muito forte na sua obra. É uma forma de desabafar suas mágoas com o mundo?
Não. Desabafar as mágoas com o mundo seria num diário, quando escrevo letras de músicas ou poesias, frases soltas, crônicas, penso em personagens, roteiros que podem conter mágoas e coisas boas, mas não é biográfico.
livro
Karina Buhr. Rocco, 192 pp. R$ 24,50 e R$ 16 (e-book).
No prefácio, você diz que, num determinado momento, ficava alegre de pegar avião, porque nas alturas não tem internet e você podia ler seus livros. Hoje, qual sua relação com a literatura?
Acabei de escrever e agora estou lançando um livro. No momento, essa é a minha relação com a literatura. E os livros que leio, claro.
A figura feminina se destaca na sua obra [Karina faz parte da campanha Sexo Ágil, contra machismo e a hipocrisia]. A literatura brasileira contemporânea é justa com as mulheres?
Não vejo uma “figura feminina” dessa forma. São muitas figuras femininas e não “a mulher”. São figuras masculinas, femininas e neutras. As mulheres também criam. A “arte em geral” não é uma coisa criada por homens que precisem ser justos com mulheres, embora os mercados, desde sempre, façam crer isto. Uma sociedade machista releva isso de todas as formas e os tipos de estímulos recebidos em todas as etapas de criação e produção de qualquer material, todos sabemos que são bem diferentes para homens e para mulheres em casa, na escola, na rua, no trabalho.
Não procuro que me retratem ou sejam justos comigo, ou fazer justiça com minha arte.
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