O título é matador, e a autora até faz referência a isso. A ideia também é boa: analisar um subgrupo de elite dentro de Nova York a partir de conceitos da Antropologia, e melhor – com base numa experiência pessoal. “Primatas de Park Avenue” brinca ainda com a principal avenida do Upper East Side.
Wednesday Martin, doutora em literatura comparada e estudos culturais , percebeu que tinha ouro nas mãos ao se mudar com o marido e um filho para essa região privilegiada, ao lado direito do Central Park.
As dificuldades de adaptação, aliadas a sua necessidade de prover oportunidades de socialização ao filho e ao seu próprio espírito investigador, transformaram em livro o sofrimento inicial.
“As mães do Upper East Side são especialistas em obsessões. Seja terrorismo, encontrar uma colônia de férias para o verão, pesquisar sobre problemas de pele ou problemas com a escrita de um filho, ou ainda passar de um apartamento de nove cômodos para um menor a fim de comprar um lugar em Aspen sem vender o dos Hamptons, eu estava aprendendo que ficamos cada vez mais obcecadas.”
Começou com a busca por um apartamento no bairro requintado, e ela descobriu que só teria sucesso seguindo a cartilha dos moradores – em alguns prédios, um conselho determina quem poderá ou não morar lá.
Algo parecido com a seleção feita pelas escolas, e foi após conseguir arrombar os portões de uma das mais prestigiadas que sua vida piorou. As mães davam-lhe as costas no corredor e até a deixavam sem resposta quando as abordava. O código de vestimentas e adereços exigia um altíssimo investimento – ninguém ia deixar o filho no maternal de jeans e camiseta como ela faria se continuasse morando no Downtown.
Foi só ao flertar com um magnata numa festa, passar as férias no mesmo balneário que todas elas, vestindo grife e malhando pesado ao seu lado que Wednesday se inseriu, a ponto de extrair confissões e poder observar situações valiosas para seu livro.
O melhor são as comparações com hábitos de tribos distantes, ou mesmo com bandos de macacos – a forma como se formam redes de ajuda mútua não estão assim tão distantes dos agrupamentos humanos de elite.
US$ 95 mil
Wednesday e uma amiga calcularam o custo anual de manutenção estética de uma perua nova-iorquina. Somaram 95 mil dólares.
O que poderá ser motivo de estranhamento são alguns desvios que Wednesday toma na narrativa, passando longas páginas descrevendo seu processo de compra de uma bolsa cara – símbolo importante no grupo de mães ricas. Ou, revelando a decisão de expor momentos realmente difíceis, um aborto no sexto mês de gravidez. Os dois filhos, por outro lado, são deliberadamente protegidos, sofrendo pouca exposição (o mesmo tratamento não é reservado às mães malvadas que realmente pisaram em seu calo, como a “Rainha das Abelhas Rainhas”).
Mesmo em se tratando de um livro de não ficção, falta uma certa continuidade. Por outro lado, as linhas cômicas abertas ao longo do livro são eficientemente arrematadas no final.
Como ser elogiada
A etiqueta rígida de elogios no Upper East Side lembra a cultura brasileira. Se alguém diz que seu vestido é lindo, é preciso de dizer que está velhinho ou foi comprado em promoção. Em Nova York, há outras sutilezas: a anfitriã de um evento pode aceitar qualquer elogio sem rebatê-lo.
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