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Ernesto Geisel, presidente que iniciou o processo de abertura “lenta e gradual” do regime militar. | Arquivo/Gazeta do Povo
Ernesto Geisel, presidente que iniciou o processo de abertura “lenta e gradual” do regime militar.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Quando o arco de interesses que levou ao golpe militar de 1964 se desfez, o regime encontrou uma solução à brasileira: sair de cena lentamente costurando uma coalizão com a oposição.

O ocaso da ditadura está documentado de forma definitiva no livro “A Ditadura Acabada”, do jornalista Elio Gaspari, quinto volume de sua coleção sobre os anos da ditadura militar no país.

Corrupção e crise marcam últimos anos da ditadura

O fim do Ato Institucional nº 5, em outubro de 1978, trouxe o fim da cesura prévia à imprensa e pôs o governo de Ernesto Geisel contra a parede

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O primeiro foi lançado em 2002, fruto de uma pesquisa iniciada ainda em 1984. O quinto fecha a narrativa iniciada em 1964 e que, depois de cinco generais e duas juntas militares, se encerra oficialmente com a posse de José Sarney no dia 15 de março de 1985.

O ponto de partida é a demissão do ministro do Exército, Sylvio Frota, em outubro de 1977. Sem seu principal oponente, o presidente Ernesto Geisel leva a efeito a distensão “lenta e gradual “ do regime.

Passa pelo mandato acidentado do general João Baptista Figueiredo, marcado pela falência da economia, terrorismo de direita, e pela campanha das “Diretas Já”.

Atentados da direita tentaram minar abertura

Se de 1968 até 1973 houve inúmeros atentados terroristas contra o governo, o sufocamento da núcleo guerrilheiro do Araguaia em 1974 acabou com o problema

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Gaspari oferece a visão de dentro, dos homens que embaralhavam e davam as cartas no período. Entre bilhetes, despachos, discursos, manuscritos, diários de conversas travadas pela cúpula e telegramas do governo americano, o arquivo do jornalista conta com mais de 15 mil itens sobre a ditadura,

Entre eles, 10 mil são do arquivo do general Golbery do Couto e Silva, a cabeça pensante da maior parte da ditadura.

O fator Tancredo

O livro é dividido em cinco partes, a primeira mostra como Geisel impôs abertura contra violenta resistência de setores do próprio exercito.A segunda mostra como a economia nacional implodiu.

A Ditadura Acabada

Elio Gaspari, Intrínseca, 448 pp,
R$. 59.

Na terceira, Gaspari monta detalhado panorama da onda de terrorismo de grupos de direita descontentes com a abertura. Nas duas últimas seções mostra como a pressão popular foi um dos fatores que anteciparam a redemocratização, prevista, na cabeça dos militares, para 1990.

Na última, entre personagens fascinantes como o sindicalista Lula, políticos como Ulysses Guimarães e Petrônio Portella, o bispo Dom Paulo Evaristo Arns (que o presidente americano Jimmy Carter queria ver como papa), se destaca a figura de Tancredo Neves.

Então governador de Minas Gerais e (com corpos de vantagem) e político mais experiente do Brasil, Tancredo articulou uma união improvável entre governo, oposição, povo e elite que terminou tragicamente.

Os ultimos dias de tancredo são contados como um thriller político.

No epílogo, ele conta a vida de 500 personagens importantes do período militaram que sobreviveram para ver o seu final.

Os personagens chave do fim do período militar

Ernesto Geisel
(1907-1996), presidente (1974-1979)

Coube ao gaúcho sério e taciturno, apelidado de Alemão, iniciar o processo de abertura “lenta e gradual” do regime, após derrotar seu oponente linha-dura Sylvio Frota. Em seu governo, acabou a censura no país (1978). Revelaram-se casos de corrupção e a dimensão real da crise econômica. Escolheu o sucessor e articulou para eleger Tancredo.

Golbery do Couto e Silva (1911-1987), general

“Gênio da raça” para o cineasta Glauber Rocha ou “feiticeiro” por quem o conhecia de perto , Golbery foi “eminência parda” dos governos dos generais Castello Branco e Geisel. Criador do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). Abandonou Figueiredo por discordar do acobertamento dos “terroristas de farda”. Seu arquivo pessoal foi base da pesquisa de Elio Gaspari.

João Figueiredo
(1918-1999), presidente (1979-1985)

Ao sair da vida pública, o último presidente militar pediu para ser esquecido. Em seu mandato de seis anos, a Lei da Anistia foi promulgada em 1979, eleições pluripartidárias foram realizadas em 1982 e o poder foi passado aos civis em 1985. Seu governo registrou a maior inflação até então na história do país (224%) e a maior dívida externa do mundo (US$ 100 bilhões).

Tancredo Neves
(1910-1985), presidente

Arquiteto da coalização que uniu situação, oposição, militares e empresários, Tancredo foi o primeiro civil eleito após o golpe de 1964. Só entrou no Palácio do Planalto, porém, no dia 22 de abril, dia seguinte à sua morte. Sua agonia fora transmitida ao vivo pela televisão a todo o país. Durante seu velório, no Palácio do Planalto, Geisel e Ulysses Guimarães se cumprimentaram.

José Sarney,
presidente (1985-1989)

Indicado pelo Planalto como vice de Tancredo, foi o primeiro presidente civil da Nova República. Durante seu mandato foi promulgada a Constituição Federal (1988). Sarney fracassou no combate à inflação com dois planos econômicos – o Cruzado e o Cruzado II – falhos. Foi senador (pelo PMDB do Amapá) até 2014. Hoje, sem mandato, é um dos citados na operação Lava Jato.

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