“Hélio Oiticica: Qual é o Parangolé”? (Companhia das Letras) reúne textos que o poeta Waly Salomão fez sobre o amigo. Nele, há uma história que exemplifica o espírito anarquista que o pintor, escultor, artista plástico e performático sempre colocou em sua obra. Quando criança, em uma das viagens dos pais (José Oiticica Filho e Ângela, que partiram tranquilamente para passar alguns dias em Minas Gerais), Hélio, o mais velho dos três irmãos, decretou uma nova dinâmica para a casa: trocariam o dia pela noite.
De dia, poderiam dormir como se fosse noite. E, de noite, quando o calor do Rio de Janeiro ficava mais ameno, fariam tudo que gostavam: pintar, martelar, dançar, ouvir rádio no volume máximo, cantar e dançar. A empregada entrou na dinâmica: tirava o “almoço dos meninos” por volta da meia-noite. Quando o padeiro batia na porta para as entregas matinais, era escorraçado. A justificativa de Hélio: queria acabar com as convenções.
Um dos artistas de vanguarda mais relevantes do século 20, Oiticica foi educado pelos pais em casa, até os 10 anos. Foi morar em Washington em 1947 com a família, quando o pai recebeu uma bolsa da Fundação Guggemheim e, no meio da década de 1950, iniciou seus estudos em arte no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, mesmo lugar de onde foi expulso em 1965, na mostra “Opinião 65”.
Waly Salomão. Companhia das Letras, 160 págs. R$ 39,90. Biografia.
Oiticica transitou pelo acadêmico, mas uma ida ao morro da Mangueira, uns anos antes, o colocou em contato com uma realidade que o fez ousar ainda mais. Ele retirou a intelectualização da arte ao criar seus famosos parangolés, que ele denominava como uma “antiarte por excelência”. A obra, uma espécie de capa, só revelava suas cores, texturas e mensagens quando era vestida e movimentada. Na fatídica exposição no MAM, ele levou passistas da escola de samba para usar suas criações.
A trajetória do artista se centrou em desenvolver um trabalho que não se separa de questões sociais. E Waly entendeu, como ninguém, sua proposta.
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