“Não queria contar nada de maneira óbvia”, diz Robson Vilalba.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Há várias maneiras de contar a história do golpe que instalou uma ditadura militar no Brasil em 1964.

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Em “Notas de Um Tempo Silenciado”, o artista gráfico Robson Vilalba, colaborador da Gazeta do Povo, optou por não fazer um resumo ilustrado dos acontecimentos ou mostrar o perfil dos líderes e personagens de destaque do período.

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Nos 13 capítulos que compõem o livro, ele tenta contar a história dando voz a personagens reais que participaram daquele momento de formas diferentes e ainda permaneciam em silêncio.

“Não queria contar nada de maneira óbvia. Hoje, mais de 40 anos depois do golpe, ficou no ar uma noção de senso comum que acha que a ditadura foi um embate de militares truculentos apoiados por parte mais conservadora contra guerrilheiros e parte da sociedade mais progressista”, diz Vilalba.

Nas pesquisas para compor as histórias do livro, ele percebeu que existiam muito mais sutilezas e perspectiva não reveladas sobre aqueles anos turbulentos.

Os quadrinhos mostram por exemplo, um assalto que ocorreu no centro de Curitiba no exato momento em que os militares depunham o presidente João Goulart.

Episódios pouco conhecidos como a violenta expulsão de populações indígenas na região oeste do estado para a construção da usina de Itaipu e a posterior criação de uma guarda rural indígena foram transformados em quadrinhos.

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Há ainda a história da ascensão do movimento dos diretos civis dos negros em meio ao regime autoritário, o caso dos militares que eram contra a ditadura, a história da estudante que resolveu entrar para a luta armada e logo percebeu que as forças dos pequenos grupos guerrilheiros eram infinitamente menores do que as forças do Estado.

Parte do material do livro já havia sido publicado na Gazeta do Povo em março e abril do ano passado, na série “Pátria Armada Brasil”, por ocasião dos 50 anos do golpe militar.

Notas de um Tempo Silenciado

Robson Vilalba. Edições BesouroBox, 104 pp., R$ 38.

Por esse trabalho, Vilalba recebeu o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro.

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Vilalba, porém, reluta em chamar o trabalho de jornalismo em quadrinhos. “Essa definição ainda não é muito clara. Certamente são quadrinhos de não ficção e, na pesquisa, além de revisão bibliográfica, foram usadas técnicas do jornalismo. As fontes estão todas identificadas”, explica Vilalba.

Positivismo

O capítulo final da HQ tenta entender por que o autoritarismo militar exerce tanto fascínio no imaginário brasileiro.

“Tinha uma suspeita que confirmei durante minhas pesquisas e entrevistas com cientistas políticos que muito disso se deve à influência do pensamento positivista na educação brasileira, que criou a ideia de que uma aristocracia armada comandada pelos ‘melhores’ era a solução para o país”, diz.

Nesse sentido, o livro serve como uma alerta em tempos de radicalização política para que o pais não precise passar outra vez por regimes antidemocráticos.

“O resultado para mim contempla um pensamento político moderno”, diz o artista gráfico. “Penso que um liberal que acredita na democracia tanto quanto alguém ligado à esquerda podem entender a mensagem contida nas histórias. Não é um panfleto político. Não fala de heróis e vilões. Fala de pessoas vivendo em um tempo difícil.”

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