Quintanilha volta a Curitiba em setembro, na Bienal dos Quadrinhos.| Foto: Bruno Matos/Gazeta do Povo

Angoulême

Em janeiro , Quintanilha recebeu, no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, o prêmio “Polar SNCF” de melhor história policial pela versão francesa de “Tungstênio”. É o prêmio mais importante do mercado europeu .

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Nos últimos três anos, o quadrinista Marcello Quintanilha publicou três graphic novels pela editora Veneta: “Tungstênio” (2014), “Talco de Vidro” (2015) e finalmente “Hinário Nacional”, que ele apresentou nesta quarta-feira (15) em Curitiba, em seu tradicional reduto na cidade, a Itiban Comic Shop. Aos 45 anos, mais de 20 de carreira, sete livros publicados no Brasil, uma passagem pela mesma editora que publicou as aventuras de Tintim, colaborações com jornais espanhóis e um prêmio no Festival Angoulême no bolso, Quintanilha é o maior quadrinista do Brasil na atualidade.

Prolífico, o niteroiense já lançou até mais de um trabalho por ano, mas as três últimas obras autorais, ambientadas no Brasil, têm um ponto de convergência: todas evocam o principal interesse de Quintanilha, que é o ser humano. “Os personagens são quem realmente pautam as histórias e são os responsáveis por dizer como é que devem ser contadas. Minha principal motivação é trabalhar a humanidade desses personagens”, conta ele, radicado em Barcelona há 14 anos.

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“Hinário Nacional” reflete dolorosamente sobre a violência nas relações humanas, que Quintanilha diz ser sempre uma razão de choque para ele. “É a violência que é imposta a outras pessoas, mas também a violência que impomos a nós mesmos, física e psicológica”, conta ele.

Das seis histórias, três em específico dialogam diretamente com o momento do Brasil, com o debate sobre a cultura que sustenta casos como o estupro coletivo que vitimou uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro. O primeiro conto, homônimo ao livro, retrata de maneira indireta o abuso sexual sofrido por uma menina. “Batalha das Flores” é contada pelo viés de um homem pressionado a participar de um estupro coletivo. Já “Eu Era o Fenômeno de Minha Classe” tem como protagonista uma mulher, também estuprada, que tenta convencer com humor como o trauma já foi superado.

Quintanilha não costuma se basear no noticiário para escrever suas histórias e diz que elas nascem de experiências pessoais e de observação de pessoas que conheceu, mas comemora a visibilidade que assuntos dolorosos como esse passaram a ter. “O que eu acho fundamental no momento atual é que finalmente podemos trazer à pauta temas que historicamente ficavam alijados dessa discussão sociopolítica. Agora as pessoas podem expressar aquilo o que realmente pensam e espero que de alguma maneira se chegue a uma conclusão nesse processo de discussão.

Angoulême

Em janeiro deste ano, Quintanilha recebeu, no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, o prêmio “Polar SNCF” de melhor história policial pela versão francesa de “Tungstênio”. É o prêmio mais importante do mercado europeu e, numa analogia com o cinema, é como ter uma Palma de Ouro em Cannes. “Foi maravilhoso. Antes mesmo de Angoulême, o livro funcionou muito bem na Europa, tinha tido notoriedade e boas críticas, mas o prêmio potencializou tudo isso. E o fundamental em receber um prêmio é trazer visibilidade para o seu trabalho”, afirma.

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O livro também foi lançado em Portugal, Espanha (traduzido por ele mesmo) e Polônia. “A tradução espanhola, eu mesmo faço. Na verdade, reescrevo tudo porque acho que funciona melhor. No caso da tradução em francês eu pude trabalhar muito próximo das tradutoras. Não sei muito sobre a versão polonesa, mas, quem sabe um dia”, brinca.

Quintanilha faz questão de passar por Curitiba a cada novo livro. “É maravilhoso, as pessoas são extremamente gentis e parecem se interessar muito pelo meu trabalho. Isso me deixa muito orgulhoso”. O quadrinista deve voltar à cidade em setembro, durante a Bienal de Quadrinhos. Também está confirmada sua participação na Comic Con Experience, marcada para dezembro, em São Paulo.