No romance “A Ninfa Inconstante”, o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante escreve que “gosta de rimas impensadas”. “Caneca de Café com Versos”, livro de estreia da escritora e jornalista radicada em Curitiba Márcia Pfleger, (pronuncia-se “flêguer”) é quase que um conglomerado de versos sutilmente carregados de imagens naturais.
É como se ela sentasse na varanda duma casa ao pé de uma colina e escrevesse antes em prosa e depois a transformasse em haikais com “rimas impensadas”.
A começar pelo título da obra, algo meio despretensioso - como uma tarde ensolarada de primavera no campo, em que você abre um livro e estica as pernas numa cadeira junto a uma xícara de café e afunda por ali mesmo.
É tudo extremamente imagético na obra.
A proposta de Pfleger é claramente oferecer ao leitor a construção de imagens significativas e proporcionais enquanto ele avança na leitura. E funciona. “No álbum a foto amarelada:/toda tarde na infância/é ensolarada?”.
“É, antes, um efeito proporcionado por uma grande carga de impressões – forma, luz, cores, texturas –, como acontece no girar de um caleidoscópio. E embora não seja intencional, não deixa de ser recorrente”, diz Márcia sobre o processo de construção das imagens em sua escrita.
Caneca de Café com Versos. Márcia Pfleger. 7Letras, 60 pp., R$ 28.
Livrarias Curitiba do Shopping Curitiba (Rua Brigadeiro Franco, 2.300 – Batel). O lançamento será no sábado (3), às 17h30.
Apesar de não haver separação concreta, o livro pode ser dividido em duas partes.
A primeira é formada por haikais um tanto quanto bucólicos.
Para a autora, estar presente diante de um campo, de uma praia ou de uma árvore centenária – lugares mais tranquilos e retirados – é importante para consolidar o pensar poético.
É nesses lugares que o outono se transfigura num menino soltando pipa. “É a partir daí que nasce a poesia”, arremata.
Influenciada por Paulo Leminski, Charles Bukowski, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Manoel de Barros, Rainer Maria Rilke e Luci Collin, que prefacia a orelha do livro, Pfleger mostra um lado mais intimista na segunda parte do livro.
Em poemas mais longos, evoca uma lírica mais expositiva, sentimental; e dá um sentido mais sombrio aos elementos naturais utilizados nos haikais.
“Quisera esquecer-me por deveras tanto, quisera/transmutar-me e me ver não mais no espelho, mas/no poço de água que sou à sombra, neste poço de/água à sombra, no qual eu sou... sombra.”
Márcia Pfleger verseja o relâmpago, o cochicho, a primavera, o amanhecer na praia, como se pertencesse a todos eles duma só vez.
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