Mary Roach é uma escritora norte-americana que escreve sobre ciência de um jeito divertidíssimo. Um de seus livros, “Próxima Parada: Marte”, saiu no Brasil em 2013, três anos depois do original. Fala sobre viagens espaciais e o futuro da vida no espaço – um tema interessante, curioso, mas não necessariamente engraçado. Naquele livro é, e muito. Mary tem um senso de humor perspicaz e sem freios que complementa brilhantemente as pesquisas substanciais que faz para investigar seus temas.
Mais recentemente, a Companhia das Letras editou no Brasil o primeiro livro da autora, “Curiosidade Mórbida: A Ciência e a Vida Secreta dos Cadáveres”. Com razão, alguém que tenha sido cativado pelos insights da autora sobre a exploração espacial poderia duvidar que ela tenha conseguido a mesma façanha ao escrever sobre mortos. A resposta é sim – mas talvez não para todo mundo, nem para qualquer hora.
Abra a cabeça
Partindo do anonimato da morte proposto por Mary Roach, a dissecação do tema pode se tornar realmente fascinante.
Leia a matéria completaO mais legal do estilo de Mary está ali. A autora é uma das personagens dos próprios livros. Conta os absurdos em que se mete para descobrir suas melhores histórias e é especialmente engraçada nos bastidores. Isso enquanto faz uma literatura científica para leigos das mais interessantes, imaginativas e provocadoras.
Mas há de se reconhecer que o assunto é barra pesada. Mary escreve sobre as diferentes sortes dos cadáveres, tanto do ponto de vista biológico quanto de seus usos ao longo da história.
Isso inclui episódios dos primórdios da ciência que podem ser particularmente sombrios, como você pode imaginar.
Pense nos inícios da cirurgia. Nos estudos de anatomia em uma época em que noções como a igualdade e a dignidade humana ainda não estavam internalizados.
Tente imaginar como se procurou descobrir, séculos atrás, se a alma humana ficava no fígado, no coração ou no cérebro.
Ou se a guilhotina era, de fato, uma execução rápida e humanizada (esta parte é capaz de provocar pesadelos no leitor que dá com ela logo antes de dormir).
Saiba que já fez parte de certas culturas o uso de medicamentos produzidos a partir de cadáveres. E que ainda hoje... Bom, basta alertar que uma dose de relativismo cultural será necessária a certa altura.
Mas, convém lembrar, Mary não está falando sobre morrer. Como já refletiu Gilberto Gil na canção “Não Tenho Medo da Morte”, “a morte já é depois” (para morrer é preciso estar presente). Todo esse percurso acaba sendo aceitável porque a linha é bem demarcada, e você não verá nenhum desrespeito.
“Não há nada de engraçado em perder uma pessoa que você ama, ou ser a pessoa que outros perdem”, lembra Mary. “Os mortos de cada um são mais que cadáveres, são substitutos dos vivos. Os mortos da ciência são sempre estranhos.” É assim que você se permite rir. Um riso nervoso, mas, enfim.
A ciência e a vida secreta dos cadáveres. Mary Roach. Tradução de Donaldson M. Garschagen. Companhia das Letras, 272 pp., R$ 44,90.
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