“Mein Kampf” (“Minha luta”), a autobiografia de Adolf Hitler (1889-1945), um dos livros mais controvertidos da história, poderá ser relançado a partir de sexta-feira (1.º) em todo o mundo, uma perspectiva que gera muita polêmica, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
O único livro escrito pelo ditador nazista entre 1924 e 1925, enquanto cumpria uma pena de prisão, passará a domínio público no dia 1.º de janeiro, segundo a legislação alemã.
Os direitos autorais, portanto, deixarão de existir, depois de ter ficado desde 1945 nas mãos do Estado regional da Baviera, que os recebeu das forças de ocupação americanas.
Em muitos países, onde já está disponível a obra de propaganda que teoriza sobre a ideologia nacional-socialista e o desejo de eliminar a comunidade judia, o fim dos direitos autorais não mudará quase nada.
O livro já tem uma ampla divulgação em países como Brasil ou Índia. Nos Estados árabes, “Mein Kampf” é encontrado facilmente e, na Turquia, foram vendidas mais de 30 mil cópias desde 2004.
Ele não é proibido nos Estados Unidos e alguns países do Leste Europeu começaram a publicá-lo depois do fim do comunismo.
Além disso, pode ser encontrado na rede, como em alguns sites salafistas que fazem traduções não autorizadas.
Na Europa, o relançamento do livro é um assunto muito delicado, principalmente na Alemanha, onde foram vendidos 12 milhões de exemplares desde 1945.
“Com o fim dos direitos autorais, há um grande perigo de ver esse lixo ainda mais disponível no mercado”, lamentou o presidente da comunidade judia da Alemanha, Josef Schuster.
O interesse da reedição levantou um debate em que poucos querem participar. Na Alemanha e na Áustria, o texto continuará sendo proibido, mesmo depois de sexta-feira, sob a pena de um processo por incitação ao ódio racial.
O Instituto de História Contemporânea de Munique (IFZ) será o primeiro a aproveitar a oportunidade, em 8 de janeiro, apesar das reticências das autoridades locais, que retiraram um projeto de subvenção.
Esta versão crítica, fruto do trabalho de pesquisadores desde 2009, colocará à disposição do público alemão a primeira reedição do texto de Hitler.
A ideia é desconstruir e contextualizar o ideário do nazista, questionando como nasceram suas teses e quais eram seus objetivos.
Para o jornalista Sven Felix Kellerhoff, autor de um livro sobre a história de “Mein Kampf”, a negativa das autoridades em permitir sua publicação ajuda a transformar o livro num mito.
Em Israel, a difusão da obra para um amplo público é um tema tabu e continuará proibida, mesmo após a entrada em domínio público.
Murray Greenfield, fundador da editora Gefen Publishing, especializada na história do judaísmo e cuja esposa sobreviveu ao Holocausto, foi bem claro.
“Jamais publicarei este livro, mesmo que paguem por isso”.
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