O escritor queniano Ngugi wa Thiong’o conta que, quando viaja, procura se informar de três dados para entender o terreno em que está pisando: quantas pessoas vivem nas ruas e qual é a população carcerária. “Não sei como é o Brasil, mas nos EUA há dois milhões de pessoas presas. Quatro vezes a população da Islândia”, diz. Para ele, essa é a amostragem perversa do aprofundamento das diferenças sociais.

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Em 1977, Ngugi foi preso numa penitenciária de segurança máxima em Nairóbi por ter escrito uma peça de teatro que criticava o governo queniano e por tê-la escrito no idioma gikuyu. Na cadeia, tomou uma decisão radical de parar de escrever em inglês e adotar seu idioma natal.

Queniano fala de memória e igualdade

Cotado para o Prêmio Nobel, o escritor Ngugi wa Thiong’o conversa com a Gazeta do Povo sobre arte, política e Jorge Amado

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“Não se pode perder a própria língua. Deixar morrer uma língua é uma perda para toda a humanidade”, defende.

Ao longo da conversa, Ngugi usa seguidas vezes a palavra imaginação para descrever o seu trabalho. Ele conta que isso é uma herança de seu período de cárcere.

“A única maneira de sair da prisão é pela imaginação. Eu conversava com o mundo inteiro e nenhum ditador pode me forçar a parar de imaginar, a não ser matando o corpo”.

Na prisão, ele escreveu o romance “The Devil Along the Cross” usando uma estratégia da qual se orgulha. “Na cadeia, só te dão papel e caneta se você for assinar uma confissão. Foi o que fiz, mas escondi a caneta e passei a escrever o livro em papel higiênico. Foi um ato de resistência que me manteve vivo”, lembra.

Para Ngugi, a ascensão de grupos fundamentalistas na Africa contemporânea – como o Boko Haram –, também pode ser colocada na pobreza e na desigualdade do continente.

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