O réveillon de 1988 seria como tantos outros na orla do Rio de Janeiro: fogos de artifício, champanhes estourando, muita gente de branco festejando e celebrando o ano que chegava. Porém, aquela noite ficou marcada por uma das maiores tragédias da história da navegação brasileira. A poucos minutos da meia-noite, o barco de turismo Bateau Mouche IV, que transportava cerca de 150 pessoas para a praia de Copacabana, afundou no mar. Cinquenta e cinco pessoas morreram.
O desastre instigou Ivan Sant’Anna, autor de três livros-reportagem sobre acidentes aéreos, a investigar o episódio. O resultado de 15 anos de trabalho está em “Bateau Mouche – Uma Tragédia Brasileira”, livro que narra em detalhes algumas causas, o transcorrer e as consequências do naufrágio.
“Impacto foi semelhante a queda de avião”
Entrevista com Ivan Sant’Anna, autor de “Bateau Mouche”.
Leia a matéria completa“Ao contrário do que muitas vezes ocorre com os aviões que se acidentam, o afundamento de um barco ou navio é uma tragédia lenta, dolorosa e angustiante”, diz Sant’Anna nas primeiras páginas do livro. Piloto amador, ele dissecou nas obras “Caixa Preta” e “Perda Total” alguns dos principais desastres aéreos do país. O mesmo expediente é aplicado na investigação sobre o Bateau Mouche, que consegue transferir para o leitor a angústia que viveram os envolvidos no episódio.
Ivan Sant’Anna. Editora Objetiva, 168 pp., R$27.
Ainda que não o faça formalmente, o livro pode ser dividido em três partes. Na primeira, acompanhamos os preparativos para o passeio fatal. Usando uma linguagem simples, acessível aos leigos, Sant’Anna revela fatores técnicos que indicavam uma tragédia anunciada. A segunda parte relata o drama dos passageiros, a tensão crescente e o esforço árduo para resgatar as vítimas. Por fim, o autor destaca as consequências da tragédia, em mais um exemplo nefasto da morosidade da Justiça.
“Bateau Mouche” é um livro-reportagem em sua essência. Apresenta uma linguagem direta, objetiva e sem rodeios. Não apela para o sensacionalismo, nem recai para o piegas. O que não significa que seja uma obra fria. Ivan Sant’Anna produz um livro contundente, em que olha muito atentamente para a relação homem-máquina, sem jamais esquecer do principal elemento envolvido ali, a humanidade.
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