Nova York, 2015. O livro de um escritor iniciante é publicado depois de um adiantamento de US$ 2 milhões, fruto de um leilão dos direitos de publicação do livro. O autor? Garth Risk Hallberg. O livro? “Cidade em Chamas”, que chega às livrarias brasileiras pela Companhia das Letras. E não é só o adiantamento polpudo que chama atenção: o livro também tem 1048 páginas.
Valores exorbitantes não são garantia de sucesso
Busca pelo próximo sucesso editorial aumenta os casos de adiantamentos para iniciantes
Leia a matéria completaDesde sua publicação, no final de 2015, o livro dividiu a crítica: Lorentzen escreveu na New York Magazine que o livro é longo e deslocado enquanto Kakutani afirma no New York Times que o livro é um grande épico de um autor talentoso. No primeiro semestre de vendas nos EUA, foram 80 mil unidades entre exemplares físicos e ebooks - um número bom, mas não surpreendente (o livro ainda não apareceu nas listas brasileiras).
Para Caetano W. Galindo, professor e pesquisador da UFPR e tradutor do livro, parte do sucesso de Cidade em Chamas vem da simplicidade da escrita, aliada a uma narrativa que poderia ser facilmente transformada em uma série de televisão. “Eu posso entender essa empolgação inicial, que se refletiu no valor do adiantamento. Ver uma total acessibilidade (nada de hermetismo) e uma prosa que quando quer é simplesmente linda impressiona”, afirma.
Nova York, década de 70
O livro narra a vida de vários personagens cujas histórias se entrelaçam na década de 70 em Nova York, desembocando no grande blackout de 77 (que de fato aconteceu). O enredo gira principalmente em torno de dois irmãos - Regan e William Hamilton-Sweeney, herdeiros de uma fortuna e que optam por caminhos bem distintos: enquanto ela se torna uma jovem empresária e mãe, tentando segurar as pontas da família, ele se torna líder de uma banda punk e artista incompreendido que não mantem contato com a família.
Os outros personagens mostram o quão complexa e diversa é uma rede de relacionamentos: Sam, jovem estudante que escreve um fanzine sobre os fenômenos culturais de seu tempo; seu pai, imigrante italiano que trabalha com fogos de artifício; Charlie, adolescente com histórico familiar e religioso confuso que se identifica com os grupos rebeldes; Richard, repórter que quer se tornar o novo nome do jornalismo literário; Mercer, jovem professor homossexual que veio do interior para finalmente escrever seu grande romance.
Garth Risk Hallberg
Trad.: Caetano W. Galindo
Companhia das Letras
1048 páginas
R$ 69,90
Essencialmente urbano, o livro mostra como questões culturais, sociais e políticas estão relacionadas e como afetam a vida de indivíduos comuns. Ao mesmo tempo, Hallberg se apropria de diversas referências (reais ou não) que caracterizam ainda mais o tempo e espírito da narrativa - o movimento punk, a música, a violência urbana e a exploração imobiliária estão entre elas.
Para Galindo, uma das maiores características da prosa de Hallberg é o uso do narrador. “Ele é bom no nível da frase, do parágrafo, da constituição de vozes diferentes”, afirma. Isso fica particularmente evidente nos interlúdios - trechos de outras narrativas, como cartas ou fanzines, que intercalam a narrativa principal e dão uma voz individual para alguns dos personagens.
Hallberg
Hallberg passou cerca de nove anos com a história em mente e cinco colocando a história no papel. Ele, que não viveu a década de 70 em Nova York (nasceu em 78 na Carolina do Norte), fez várias entrevistas e pesquisas sobre o período, principalmente sobre a memória das pessoas sobre o blackout. Antes de Cidade em Chamas, Hallberg trabalhava principalmente com crítica literária. Em 2007, publicou uma novela chamada “A Field Guide to the North American Family”.
Os direitos de “Cidade em Chamas” já foram vendidos para o cinema - a adaptação deve ser feita por Scott Rudin, produtor de “A Rede Social” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”.
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