Se um dia, em um futuro hipotético e bastante improvável, fosse possível conceber um livro de autoajuda “eficaz”, que “funcionasse”, talvez ele lembrasse algumas frases escritas por Saul Bellow. Há ali tanta inteligência, tanta sabedoria – para usar uma palavra aparentemente antiquada –, que o leitor se sente, por um breve e ilusório instante, parte de algo mais relevante, mais interessante.
Bellow é um mestre no jogo de aparências, nos duplos sentidos, na percepção muito refinada de núcleos familiares e seus desvios, nas conversas que significam muito além do que sugerem.
E tudo isso ressurge inúmeras vezes em seus quatro textos finais, reunidos neste “A Conexão Bellarosa – Quatro Novelas” e traduzidos para o português com a competência usual de Caetano W. Galindo, desta vez em conjunto com o irmão Rogério W. Galindo, ambos curitibanos e colunistas desta Gazeta.
Dos quatro textos (além daquele que dá nome ao volume, “Um Furto”, “Uma Afinidade Verdadeira” e “Ravelstein”), o destaque é o último, no qual ele ficcionaliza a sua convivência com o controverso professor de filosofia norte-americano Allan Bloom, colega de ensino na Universidade de Chicago e um de seus amigos mais próximos.
Na época em que foi publicado, em 2000, o romance causou celeuma por tornar público a homossexualidade de Bloom, bem como o fato de ele ser supostamente portador do vírus HIV. Se a polêmica já era boba na época, agora é completamente irrelevante.
Não é nada irrelevante, contudo, o fato de o livro lidar com o tema da morte (de Ravelstein) e da quase morte (do narrador), ao mesmo tempo em que retrata o declínio de uma geração de intelectuais, sem concessões.
Mas isso não o resume porque, mais ainda, trata-se da história de uma amizade especial, de um reiterado esforço de dois homens de serem sempre sinceros entre si.
Saul Bellow. Tradução de Caetano e Rogerio W. Galindo. Companhia das Letras, 424 pp., R$59,90.
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