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Ilustração da série “Cânone Gráfico”, publicado pela Barricada. | Reprodução
Ilustração da série “Cânone Gráfico”, publicado pela Barricada.| Foto: Reprodução

Foi o antologista Russ Kick quem trouxe a ideia da empreitada: um livro com adaptações em HQ de todo o cânone literário. São três tomos com cerca 500 páginas. É o segundo volume que chega agora às livrarias, detendo-se no século 19.

As duas pontas do volume 2 dizem muito sobre o miolo. De um lado, o cânone adotado por Kick comporta diversos poemas: de Wordsworth, Keats, Dickinson, Rimbaud e vários nomes importantes do século retrasado. De outro, as adaptações de contos ou livros canônicos tende a resumir-se a trechos selecionados dos originais. O motivo (e às vezes problema) é espaço: são mais de 50 adaptações neste volume, sendo a maior delas de 29 páginas --de “Os Miseráveis de Victor Hugo”, cujo texto original tem cerca de 3 mil.

Sejam de poesia ou de prosa, as adaptações têm em comum o respeito às vezes demasiado ao texto original. O “ipsis literis” vale para diálogos, pensamentos, às vezes descrições --o que não é um costuma combinar com os quadrinhos, onde se tem preferência por mostrar em vezde descrever.

Quando o adaptador Tim Fish reproduz a descrição de Heatchliff em “O Morro dos Ventos Uivantes” --”O semblante era mais velho e mais decidido”; “As maneiras (...) revelavam graça e encanto”-- ao lado de uma imagem do próprio, a impressão é que deveria haver um investimento maior no desenho do personagem e menor no uso das palavras de Emily Brontë (1818-1848).

“Cânone Gráfico - Vol. 2”

Russ Kick (org.). Tradução de Alzira Alegro e Flávio Aguiar. Barricada, 488 pp., R$ 132.

Esta incongruência acontece em grande medida por conta de espaço. É cada vez mais característico dos quadrinhos, especialmente as “graphic novels” de livraria, alongarem-se em trezentas, quinhentas, até oitocentas páginas ou mais, servindo-se do espaço amplo para narrar flexivelmente com imagens. Como as adaptações de “Cânone Gráfico” tendem para menos de vinte páginas, faltou a muito quadrinista encontrar solução que não apertar a história --e perder em termos de uso de recursos de HQ.

Aliás, grande parte do volume cai num problema de definição do que seria uma HQ. Há adaptações que na verdade são imagens acopladas ao texto original. “A Letra Escarlate”, de Nathaniel Hawthorne, por exemplo, vira apenas uma ilustração pouco inspirada de uma página da australiana Ali J, enquanto um caderno de vinte páginas resume-se a interpretações ilustradas dos livros de Alice --de qualidade irregular.

Para compensar, a adaptação que Dame Darcy faz de “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no País do Espelho” é uma das mais marcantes do volume. Outra obra de Lewis Carroll, “Dragodonte”, também figura entre as mais interessantes. O grande destaque do volume é “Walden”, de Henry David Thoreau (1817-1862), adaptada com a simplicidade e parcimônia de John Porcellino que condizem com o original.

Vale destacar no volume a qualidade dos textos de introdução, um para cada obra, que contextualizam o leitor quanto a autores tanto dos originais quanto das adaptações. Da mesma forma, há um trabalho esmerado de tradução das poesias por Flávio Aguiar, acompanhado de soluções complexas no letreiramento de Lilian Mitsunaga – que teve que reproduzir a tipografia própria de cada uma das histórias.

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