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Universidade do Missouri, em Columbia, é o cenário de “Stoner”. | Adam Procter/Wikimedia Commons
Universidade do Missouri, em Columbia, é o cenário de “Stoner”.| Foto: Adam Procter/Wikimedia Commons

Um livro sobre a vida de um professor universitário que não realiza nada de excepcional ao longo de 60 e tantos anos, que falha muito e lida com um monte de banalidades, não é bem a sinopse de um best-seller.

Mas “Stoner”, escrito em 1965, há meio século, é um dos livros mais tristes e lindos que você pode ler neste ano (se é que esse tipo de tristeza faz sua cabeça). O romance de John Williams (1922-1994) foi redescoberto há coisa de dois anos e publicado pela primeira vez no Brasil meses atrás – um dos títulos de estreia da editora Rádio Londres.

Numa entrevista para a revista “Time”, o ator Tom Hanks falou do livro “como uma das coisas mais fascinantes que um leitor pode encontrar”. A frase, é claro, está estampada na quarta capa da edição brasileira, junto de outras cinco ditas por escritores famosos (na linha de Ian McEwan e Nick Hornby), todos enaltecendo as qualidades de “Stoner”.

Mas foi Steve Almond, para a “New York Times Magazine”, quem deu a melhor definição do romance: “O que torna uma vida heroica depende da atenção que você dá a ela”.

A história do professor William Stoner é banal e, pensando agora, acho que essas banalidades narradas no texto são prova do quanto John Williams era um escritor talentoso. Os eventos podem ser corriqueiros – como levantar de manhã para ir ao trabalho –, mas o olhar e o estilo de Williams dão importância a eles.

Um escritor bom consegue pôr em palavras sentimentos e pensamentos que existem – que você conhece porque já sentiu ou pensou, mas nunca havia se dado conta de que eram como eram até ler uma descrição deles no texto. E esse “pôr em palavras” é poderoso porque ajuda a entender muita coisa.

Williams é capaz de descrever uma festa de maneira breve e eficiente: “A festa foi igual a muitas outras. As conversas começaram desconexas, ganharam uma energia rápida mas tênue e se esvaíram à toa em outras conversas”.

Ele consegue falar sobre as dificuldades de ser professor: “Sempre, desde o tempo em que se atabalhoara com suas primeiras aulas de Inglês para o primeiro ano, tivera consciência do abismo que ficara entre o que sentia pela sua matéria e o que conseguia comunicar em sala de aula. Esperara que o tempo e a experiência preenchesse tal abismo, mas isso não aconteceu. Os assuntos que ele mais profundamente conhecia eram os mais profundamente traídos quando falava deles para suas classes”.

“Stoner”

John Williams. Tradução de Marcos Maffei. Rádio Londres, 320 pp., R$37,50. Romance. Uma 2ª edição foi impressa há pouco tempo, corrigindo erros de revisão da primeira.

Quando decide falar de amor, Williams o faz no meio de um comentário sobre o caso que marcou a vida do protagonista (tanto quanto ou até mais que o casamento fracassado).

Stoner se apaixonou perdidamente por uma professora mais nova. Na época, nos Estados Unidos dos anos 1930, acabar um casamento para viver um amor não era simples. Refém das convenções e também por ser um homem absolutamente convencional, ele se contentou em viver esse interlúdio de felicidade pelo tempo que ele durou: “Em seu quadragésimo terceiro ano, William Stoner aprendeu o que outros, muito mais jovens que ele, haviam aprendido antes dele: que a pessoa que se ama no começo não é a pessoa que enfim se ama, e que o amor não é um fim, mas um processo através do qual uma pessoa experimenta conhecer outra”.

Por ser capaz de percorrer com sensibilidade tantos momentos significativos de uma existência comum, “Stoner”, o livro, é na verdade uma vida impressa em papel pólen soft e prensada entre capas de papel cartão 250 gramas. Que você agarra com uma mão.

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