Em sua obra, Svetlana procura ouvir os ignorados pela História.| Foto: Reuters

A escritora bielo-russa Svetlana Alexievich venceu o Prêmio Nobel de Literatura deste ano.

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Ela merecia há muito tempo. Tendo começado como jornalista, ela evoluiu e elaborou seu próprio estilo documental de dar voz àqueles que raramente estão nos holofotes no mundo pós-soviético. Sejam vítimas ou soldados, suas famílias, suas mães – pessoas que nunca chegam às primeiras páginas dos jornais.

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Seus livros são guias para que dão acesso a histórias pessoais – passando pelos túneis escuros do passado soviético – incrivelmente tocantes, muito subjetivos, cheios de dor, amor, raiva, desamparo, coragem, dignidade humana, desespero e esperança. Cheios de contradições, mas ao mesmo tempo explícitos e precisos. Tão humanos.

Alexievich falou com pessoas afetadas pelo desastre de Chernobil, cujas vidas foram metamorfoseadas por algo invisível. Falou com aqueles que conseguiram voltar do Afeganistão, com centenas de famílias daqueles que não conseguiram. Procurou mulheres que, no período da União Soviética, combateram na Segunda Guerra Mundial, mas que nunca foram mencionadas já que a história da guerra é um domínio masculino.

Seu livro mais recente, “Second-Hand-Time” [inédito no Brasil, como toda sua obra], é uma exploração da vasta herança da URSS – essas quatro letras e 70 anos, o que eles fizeram a tantas nações? Por que a globalização trouxe de volta a nostalgia do homo sovieticus?

Alexievich oferece uma ideia, um vislumbre de assuntos que são impossíveis de se apreender em sua inteireza. Ela não é uma escritora no sentido estrito; é uma narradora, alguém que dá voz a gerações que nunca foram ouvidas.

Esse Prêmio Nobel é de especial importância agora, quando a Rússia destroça a vizinha Ucrânia e lança ataques aéreos na Síria. Se você quiser saber mais sobre os russos e as regiões: leia os livros de Alexievich.

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A Nobel 2015 nunca recebeu qualquer prêmio em seu próprio país. Em função de sua postura crítica em relação ao regime autoritário, sua posição aberta sobre a anexação da Crimeia pela Rússia e sobre a cruzada na Ucrânia oriental, ela era invisível para as autoridades bielo-russas. Agora será impossível ignorá-la, tanto em seu país quanto na Rússia.

Em certo momento houve na Bielo-Rússia uma discussão sobre se ela é de fato uma escritora bielo-russa, já que todos os livros dela são em russo. Ela nasceu na Ucrânia e parece não pensar muito bem sobre os méritos literários do idioma bielo-russo. Mas as histórias que conta com um brilho tão empolgante agora pertencem definitivamente ao mundo todo. Com ou sem o Prêmio Nobel.

Maryna Rakhlei é jornalista nascida na Bielo-Rússia, especialista no Leste Europeu e trabalha para a fundação norte-americana German Marshall, em Berlim.
Tradução de Rogerio W. Galindo.