Lápide da escritora Sylvia Plath| Foto: Creative Commons/

O misticismo criado em volta da figura da escritora norte-americana Sylvia Plath (1932-1963) certamente fez com que sua obra fosse amplamente difundida. Após se suicidar ingerindo grandes quantidades de remédios e colocando a cabeça dentro do forno com o gás ligado em 11 de fevereiro de 1963, um burburinho se formou diante do poeta inglês Ted Hughes – marido de Plath –, que retirou poemas de livros póstumos da escritora, principalmente de “Ariel” (1965), os quais denunciavam a dura relação do casal e o caso extraconjugal de Hughes com Assia Wevill.

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Diagnosticada com depressão, à época, após a sua morte, a doença de Plath foi tratada de forma espetacularizada pelos meios de comunicação e o estudo da estética de sua obra foi deixado de lado por alguns críticos, como escreve Rodrigo Garcia Lopes no texto “Sylvia Plath: delírio lapidado” anexo ao livro “Poemas” (Iluminuras, 2007). O que deu margem para a construção da imagem anti-heroica permeada de polêmicas e para o esquecimento da real estrutura dos escritos da poeta.

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Em “A Redoma de Vidro”, seu único romance – um tratado autobiográfico –, Sylvia Plath desconstrói a depressão e coloca em evidência, gradualmente, o desmoronamento psicológico que lhe aflige. Publicado pouco tempo antes do suicídio da autora, o livro aborda a vida de Esther Greenwood, uma adolescente de 19 anos que consegue um estágio numa prestigiada revista de moda em Nova York e vê sua vida mudar repentinamente. Dos pacatos subúrbios de Boston a eventos abarrotados de escritores e celebridades, Esther começa a refletir sobre a validade de tudo aquilo; sobre a inerente empolgação que aqueles lugares supostamente causariam em qualquer garota de sua idade, mas que, aos seus olhos, não passavam de coisas efêmeras.

A Redoma de Vidro

Sylvia Plath. Tradução de Chico Mattoso. Biblioteca Azul, 280 pp., R$ 39,90.

O vazio existencial de Esther se torna ainda mais notável quando volta para casa e recebe uma carta dizendo que não foi aprovada para participar de uma oficina de ficção e seus planos e digressões para tirar a própria vida, aos poucos, alimentam o que ela chama de “redoma de vidro”: um lugar quase totalmente intocável que ela mantém dentro de si.

Chama atenção o modo de delineamento das relações da personagem – algo obscuro. No mesmo tempo que demonstra segurança, verte certo desespero. Seja nos momentos protagonizados com Doreen – uma de suas melhores amigas durante o período que passou em Nova York –, com a mãe, ou em alguns encontros que estabeleceu, principalmente com Buddy Willard, por quem foi apaixonada.

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O livro denuncia a ânsia de Plath para com a morte. Os diálogos – líricos e sombrios –, o período que ficou internada em recuperação e o tom pouco esperançoso difundido em cada página moldam a obra – que pode ser considerada uma longa carta suicida de uma das mais proeminentes poetas do século 20.