O rádio tem fundamental importância em “Toda Luz Que Não Podemos Ver”, romance vencedor do Prêmio Pulitzer de ficção deste ano.
Antes mesmo de estruturar a trama, que se passa na Segunda Guerra Mundial, o americano Anthony Doerr sabia que as ondas eletromagnéticas seriam responsáveis por unir os dois personagens principais. E é através delas que Werner Pfennig, um órfão alemão, e Marie-Laure LeBlanc, uma menina cega francesa, entram em contato.
“O que estamos fazendo agora é incrível. Estamos usando uma luz invisível, uma onda eletromagnética, para conversar. Tudo o que eu sabia no começo era que a história teria uma garota lendo para um menino através do rádio. E essa história seria capaz de atravessar paredes e seguir pela escuridão”, diz Doerr, por telefone, de sua casa em Idaho.
Ao falar da influência do rádio naquele período, ele faz uma comparação com a atualidade: “Uma grande parte da minha pesquisa se concentrou em entender o papel do rádio, tanto como veículo de propaganda política que fomentava violência quanto como uma ferramenta da resistência. Eu acredito que um bom romance histórico deve traçar relações com nossa experiência no presente”.
Anthony Doerr. Trad. de Maria Carmelita Dias. Intrínseca, 528 pp., R$ 39,90.
A despeito das intrincadas descrições sobre o funcionamento de aparelhos de rádio, o romance se tornou o maior best-seller do autor. Em todo o mundo, vendeu mais de um milhão de exemplares. No Brasil, ele ocupa a lista dos mais vendidos desde que foi lançado, em abril, com 50 mil cópias comercializadas, número considerável em tempos de crise.
Escrito em capítulos curtos, repletos de longas adjetivações e certo sentimentalismo, o romance histórico intercala as trajetórias dos dois protagonistas, que lentamente se aproximam.
Werner vive em um orfanato junto à irmã Jutta e, de forma pouco verossímil, se descobre um especialista em consertar rádios. Através do aparelho, acompanha a ascensão do regime nazista.
A recuperação moral e econômica que se sucedeu aos primeiros anos de Adolf Hitler no poder se reflete na economia da cidade mineradora de Zollverein.
Seu talento com a tecnologia chama a atenção dos poderosos locais, que o incorporam à burocracia do Reich.
“Acredito que a ficção é um veículo para a empatia. Eu me preocupo em saber o que as crianças aprendem sobre a Segunda Guerra. Em alguns filmes e videogames, todos os alemães são maus. E não é o caso. Tento mostrar o contexto complicado que leva um garoto alemão a tomar uma série de decisões equivocadas”, diz.
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