Os slogans secretos inseridos pelo Sonic Youth nas primeiras cópias em vinil de Daydream Nation, de 1988; a complexa e explosiva relação entre os membros do Velvet Underground durante as gravações do seu homônimo disco de estreia (com a cantora Nico), em 1967; o impacto de uma desastrada palestra de Wynton Marsalis no então estudante Josh Davis e seu reflexo na concepção de Endtroducing..., que lançou em 1996, como DJ Shadow; a forma como os estudos de Jorge Ben sobre alquimia e o universo medieval afetaram A Tábua de Esmeralda, de 1974; as contradições do Rio de Janeiro no final do milênio espelhadas em Lado B Lado A, que O Rappa colocou nas ruas em 1999, a "procuratividade" de Tom Zé que culminaria no imortal Estudando o Samba, lançado em 1976.
São histórias e mais histórias, enriquecidas e engrandecidas pelos detalhes, que marcam a chegada ao Brasil da celebrada coleção 33 e 1/3, da Bloomsbury, traduzida e ampliada, em conexão com a editora Cobogó. Iniciada em 2003 no exterior e sempre girando em torno de um álbum marcante, ela ganha por aqui o natural título O Livro do Disco e também versões locais.
"Temos, em linhas gerais, ainda poucos livros sobre música no Brasil e a maioria deles é de biografias", conta Isabel Diegues, diretora da Cobogó. ? E essa coleção tem a particularidade de permitir a reflexão sobre alguns grandes discos. Isso é sedutor.
Num momento em que a relação das pessoas com a música tende a se tornar cada vez mais superficial, foi essa sedução que fez com que Isabel se permitisse conquistar pela proposta apresentada por Frederico Coelho, historiador, pesquisador e DJ, e Mauro Gaspar, jornalista, pesquisador e editor. Apaixonados por música, os dois tocaram a mesma tecla para Isabel por um bom tempo: a Cobogó deveria, de alguma forma, se associar à série da editora britânica até que conseguissem, todos, entrar em sintonia.
"Passamos uma temporada de estudos nos Estados Unidos em 2006 e entramos em contato com a série original", conta Coelho.
Livro
33 e 1/3
Editora Cobogó. R$ 32 (por volume).