Miguel Sanches Neto mistura ficção a personagens reais em seu novo romance| Foto: Celso Margraf/Divulgação
Romance: A Máquina de Madeira. Miguel Sanches Neto. Companhia das Letras, 148 págs., R$ 26. Bate-papo como o autor hoje, às 17 horas, na Livraria Arte & Letra (R. Pres. Taunay, 130B, Batel), (41) 3223-5302. Entrada franca

A vida do escritor Miguel Sanches Neto mudou nos anos 1970 quando ele se graduou no curso de datilografia. Para o jovem interiorano e toda a sua geração, a intimidade com a máquina de escrever valeu uma mudança de estrato social.

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"Você deixava de ser mais um potencial trabalhador braçal para entrar no mercado intelectual. Já podia sonhar em ter um emprego em um escritório ou no Banco do Brasil", lembra.

Quando a máquina de escrever já tinha virado peça de museu, em 2003, Sanches Neto se deparou com a história do padre Francisco João de Azevedo e viu que ela podia ter mudado também a história do país.

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O padre teria sido o inventor da primeira máquina de escrever do mundo, pelo menos a primeira cujo projeto tornava viável uma produção em larga escala.

Ele é o personagem central do novo romance do escritor, A Máquina de Madeira, que será lançado hoje, às 17 horas, durante um bate-papo com o autor na Livraria Arte & Letra.

Segundo o escritor, o título do romance expõe as contradições de um país que não sabe administrar as próprias riquezas. "O Brasil nunca conseguiu ser contemporâneo das suas melhores mentes. O país fica preso numa percepção colonial", afirma.

Na primeira parte do livro, Sanches Neto narra como o padre apresenta e tenta emplacar a produção de seu invento numa era pré-industrial do país. Com sua traquitana, ele ganha o prêmio principal em uma exposição no Rio de Janeiro em 1861 e o direito de representar o país no ano seguinte, em uma exposição universal na capital britânica. A falta de matéria-prima e infraestrutura industrial para a produção da máquina no Brasil, no entanto, o impediu.

A segunda parte mostra como os americanos da Remignton fabricaram a primeira máquina de escrever em 1873, quatorze anos depois da primeira referência pública ao invento brasileiro. E como o padre Azevedo despontou para o anonimato completo, já que a história é escrita pelos vencedores.

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A linguagem na primeira metade do livro é mais lenta, caligrafada. Na segunda, se torna mais rápida e fragmentada, mostrando a mudança que a tecnologia imprimiu à escrita.

Este é o segundo "romance histórico" do autor – o primeiro é Um Amor Anarquista, de 2005 – e mistura ficção a fatos e personagens reais. "Penso que é um romance contemporâneo. Uma narrativa que se passa no passado, mas quer se referir ao presente", disse.