Se o senhor não está lembrado, dá licença de contar que no último dia 6 de agosto comemorou-se o centenário de Adoniran Barbosa. Com exceção da gafe de todas as escolas de samba do grupo especial de São Paulo, que simplesmente ignoraram a efeméride - mesmo que o sambódromo leve o nome do compositor -, ele recebeu justas homenagens ao longo de 2010.
Como o ano ainda não acabou e existem pessoas preocupadas em zelar pelo patrimônio cultural do País, há tempo para mais uma e hoje será lançado o livro "Trem das Onze - A Poética de Adoniran Barbosa".
Em mais um exemplo de como manter viva a memória da música brasileira, como já havia feito com o livro "O Morro e o Asfalto no Rio de Noel Rosa" (cujo centenário foi celebrado no sábado passado), a Aprazível Edições e Arte publica agora, com belo material de texto, imagens inéditas e um CD, o retrato da cidade e os personagens cantados por Adoniran Barbosa.
O material fotográfico, todo em preto e branco, e coletado no acervo da família do sambista e no Instituto Moreira Salles (com fotos de Peter Scheier, Henri Ballot, Alice Brill, Marcel Gautherot, Hildegard Rosenthal e Vicenzo Pastore), como sugere o título do livro é carregado de beleza e poesia. A qualidade dos textos, por mais inglória que fosse a missão, não fica devendo. A editora acertou ao convocar para tal tarefa um especialista, assim como fizera no volume sobre Noel ao encarregar o perito no assunto João Máximo. Desta vez, o tiro certeiro veio das mãos de Celso de Campos Jr., autor de "Adoniran - Uma Biografia", trabalho mais completo sobre o compositor de Valinhos, nascido João Rubinato.
Concebido por Leonel Kaz e Nigge Loddi, com apresentação de Antonio Candido, o livro consegue costurar dados biográficos e artísticos de Adoniran com a história da cidade que ele tanto cantou e dos anônimos que tanto serviram de inspiração para seus sambas em forma de crônica social. Eram figuras como Iracema, Arnesto, trabalhadores da construção civil, o pipoqueiro do circo, o dono do botequim, o vendedor de frutas na rua, entre tantos outros tipos.
"Hoje em dia a gente não vê esses ensaios abordando a cidade. Nessa obra, você vê São Paulo crescendo, os prédios em construção, sem deixar de focar o cotidiano, com os anônimos que enriqueceram a obra do Adoniran", diz Campos Jr. O autor, que parecia ter esgotado todo o assunto na biografia de Adoniran, conseguiu acrescentar mais informações ao mesmo tempo relevantes e curiosas sobre o compositor por meio de uma linguagem fluente.
O livro é divido em seis capítulos que abordam, entre tantas camadas, as oscilações de um Adoniran que pendulava entre a alegria e a tristeza, o bonachão caricato, famoso e sua faceta introspectiva, de reclusão; esclarecimentos e mitos sobre a existência ou não de personagens e lugares citados em temas, como Iracema, Arnesto, o Trem das Onze, a passagem do compositor pelo Jaçanã; a arte de falar errado e a miscelânea de português coloquial com um italiano macarrônico; e a paixão de Adoniran em construir miniaturas de bicicletas e dá-las de presente a amigos próximos, como o produtor Pelão, o radialista Oswaldo Moles e o compositor Carlinhos Vergueiro.
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