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CD

De Bandolim a Bandolim

Hamilton de Holanda e Joel Nascimento. Brasilianos. Preço médio: R$26. Instrumental.

De Bandolim a Bandolim surgiu da forma mais natural possível. Dois amigos, dois instrumentistas de gerações diferentes, com vontade de tocar. O virtuose Hamilton de Holanda e o experiente Joel Nascimento em sintonia gravaram um disco que contempla um diálogo, uma troca de gentilezas em forma de música. Com apenas dois bandolins, fazem tango, música erudita e choro.

As cordas vibram muito em "Os Cinco Companheiros" (música de Pixinguinha), funcionam de maneira tradicional em "Falta-me Vo­­cê (Jacob do Ban­­dolim) e imitam até um bandoneon no tango "Por una Cabeza" (Carlos Gardel e Alfredo Le Pera).

O melhor vem quando os homenageados são Radamés Gnattali, Bach e Vivaldi. Este último compôs o "Concerto para 2 Bandolins em Sol Maior", obra em que os bandolins europeus destacam-se. Mas é com o instrumento brasileiro, de som mais brilhante e imponente, que a faixa se agiganta. Há ainda uma obra de Beethoven escrita originalmente para bandolim e piano e um choro "amaxixado" de Bonfiglio de Oliveira.

O trabalho também está relacionado a datas importantes. Em 2008, Joel do Nascimento comemorou 70 anos. Em 2009, são passados 40 anos da morte de Jacob do Bandolim, principal nome do instrumento no Brasil. (CC)

Livro 1

Nada a Temer

Julian Barnes. Rocco, 256 págs., R$ 38. Memórias.

Escritor que faz parte do time A (alguns diriam B) de literatos britânicos, ao lado de Martin Amis, Ian McEwan e Jonathan Coe, Julian Barnes reúne aqui os seus pensamentos e memórias sobre a morte e como ela influencia a identidade de alguém, o esquecimento e mesmo a própria noção de finitude. Em conversas com o irmão filósofo, ele propõe questões que, às vezes, parecem gratuitas. Na abertura do livro, pergunta ao irmão o que este acha da frase "Não acredito em Deus, mas sinto falta d’Ele". Sem pestanejar, o irmão responde: "Piegas". Deslindando situações como essa e lembranças ligadas à família – os pais e os avós eram pouco ou nada religiosos –, Barnes admite que escrever sobre a morte não alivia o medo que sente dela. A certa altura do livro, pega as teorias defendidas pelo evolucionista Richard Dawkins para concluir que talvez não seja possível "morrer melhor" hoje do que anos, séculos ou milênios atrás. No caso de um ateu como Dawkins, especula o autor, deve ser difícil olhar para frente e ter de encarar a extinção total. Não há como melhorar nisso. "Não sei por que nossa inteligência ou autoconhecimento deixaria as coisas melhores e não piores", escreve Barnes, que sentiu o gosto amargo da morte nos lábios aos 50 anos, quando beijou a testa da mãe no dia do enterro dela. (IBN)

Livro 2

Cora Coralina – Doceira e Poeta

Editora Global. 142 págs. R$ 100. Culinária.

Livros de receita podem ser mágicos. Deles saem as orientações para a realização de um dos maiores prazeres do ser humano: comer. O livro de Cora Co­­ralina é ainda mais especial que os outros. São receitas brasileiras que foram preparadas por uma poeta (ou poetisa, se o leitor preferir) ao longo da vida e, especialmente, na terceira idade. Para sustentar a si a aos filhos, ela fazia doces tradicionais da cozinha brasileira: bolos, doce de abóbora, pudim de coco, bolachinhas e rocamboles. Os ingredientes são aqueles que se encontram em qualquer armazém de cidade do interior, como ovos, farinha de trigo, frutas e coco. Cora Coralina – Doceira e Poeta foi editado com capricho, com belas fotos e receitas adaptadas para o consumo doméstico, já que Cora os preparava em grande quantidade para vender.

O lado poeta de Cora não está incluído (só há um poema dela), mas há bons textos de introdução que apresentam a velha senhora que comprou uma casa sobre a ponte, na cidade de Goiás Velho, com o dinheiro que economizou fazendo doces em tacho de cobre. Era lá que ela vivia quando seus poemas foram publicados e elogiados por Carlos Drummond de Andrade, tornando-a, aos 80 anos, um nome popular da poesia brasileira. (MS)

DVD 1

Milwaukee at Last!!!

EUA, 2009. Direção de Albert Maysles. Decca/Universal. Preço médio: R$ 44,80. musical

Gravado há dois anos no belo Pabst Theater, casa de espetáculos art nouveau em Milwaukee, no estado norte-americano de Wisconsin, este DVD chega ao mercado brasileiro sem o CD que reúne os pontos altos do show. Não faz mal. Afinal, na direção, está o lendário documentarista Albert Maysles, que ao lado do irmão David, fez, entre outros, o clássico Gimme Shelter, protagonizados pelos Rolling Stones.

Registro da turnê de divulgação do álbum Release the Stars, Milwaukee at Last!!! é notável por vários motivos. Primeiro, porque reúne uma amostra significativa do já amplo repertório de um dos mais talentosos compositores e cantores de sua geração – Wainwright tem 36 anos. Estão lá desde belas canções de seu último CD de estúdio, como a faixa-título e "Going to a Town" até faixas de outros trabalhos, com destaque para "The Art Teacher" (do álbum Want Two), "If Love Were All" (do disco ao vivo Rufus Does Judy) e "Complainte de la Butte" (da trilha sonora do filme Moulin Rouge – O Amor em Vermelho). Não menos imperdíveis são as cenas de bastidores, que mostram Rufus e sua banda muito à vontade, fazendo piadas e compartilhando com quem assiste alguns detalhes íntimos bem divertidos. (PC)

DVD 2

Short Cuts – Cenas da Vida

EUA, 1993. direção de Robert Altman. Lume Filmes. Classificação indicativa: 18 anos. Preço médio: R$ 44,90. Drama.

O diretor Robert Altman (1925-2006) fez história no cinema mundial por ser um cronista da vida nos Estados Unidos do século 20 e também por construir seus filmes a partir de uma estrutura narrativa bastante particular, contrária à tradição clássica de Hollywood. Menos preocupado com o enredo e mais focado nos personagens, o cineasta se utilizava deles para compor amplos painéis humanos, sociais e políticos. Fez isso em clássicos como MASH (sobre a Guerra da Coreia), Nashville (a respeito do universo da música country) e em Short Cuts – Cenas da Vida, que acaba de ser lançado pela primeira vez em DVD no Brasil, apesar de ter sido produzido em 1993.

Nesta que é uma de suas obras-primas, Altman leva ao cinema uma série de contos do escritor Raymond Carver (1938-1988), histórias que falam de gente comum, ordinária, de Los Angeles, uma cidade de forasteiros, de sonhos frustrados e corações partidos. Mas também de luz, glamour, gente bonita e mar azul. O elenco im­­pressiona: Jack Lemmon, Ju­­lianne Moore, Andie Mc­­Dowell, Jennifer Jason Leigh, Lily Tomlin, Tom Waits e Matthew Modine, entre ou­­tros.

Apesar de longo – tem quase três horas de duração –, Short Cuts – Cenas da Vida traz o diretor (e roteirista) em grande forma, afiado como nunca na posição de observador atento da contemporaneidade em seu país. (PC)

Livro 3

A Arte do Romance

Milan Kundera. Companhia das Letras. 154 págs. R$ 21. Ensaio.

Escritores que realizam literatura complexa, em geral, também são competentes pensadores. Há vários exemplos, e o autor checo Milan Kundera é um desses sujeitos que, além de escrever obras-primas, como A Insustentável Leveza do Ser, ainda é brilhante em ensaios e reflexões.

Em A Arte do Romance, que agora sai na edição de bolso, Kundera comenta o próprio ofício de romancista. Defende a tese, compartilhada com outros autores, de que o romance, entre outras coisas, é um gênero que explica a Europa.

Grande suporte surgido durante o século 19, o romance também é, na opinião do autor, algo im­­prescindível para entender o homem moderno.

"O caminho do romance se esboça como uma história paralela dos tempos modernos", afirma Kundera.

O presente, então, de acordo com a argumentação de Kundera, se faz, sobretudo, pelo e a partir do romance. Mais que isso. Pela contuinuidade de obras, uma a dialogar com a outra.

"O espírito do romance é o espírito da continuidade: cada obra é a resposta às obras precedentes; cada obra contém toda a experiência anterior do romance. Entretanto, o espírito de nosso tempo está fixado sobre a atualidade, que é tão expansiva, tão ampla, que expulsa o passado de nosso horizonte e reduz o tempo ao único segundo presente." (MRS)

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