| Foto:

Livro 1

CARREGANDO :)

As Aventuras de Auggie March

Saul Bellow. Companhia das Letras. 704 págs. R$ 67. Romance.

Publicidade

O penúltimo norte-americano a vencer o Prêmio Nobel de Literatura, em 1976, Saul Bellow (1915-2005) contribuiu de maneira definitiva para colocar os judeus no mapa literário dos Estados Unidos. Dois anos depois dele, a Academia Sueca premiou Isaac Bashevis Singer (1904-1991), outro escritor em situação semelhante. Singer nasceu na Polônia e se tornou americano, mas nunca deixou de escrever em iídiche. Já a língua Bellow era o inglês – nascido no Canadá, também se radicou nos EUA. Mas dominar o idioma não o impedia de ser discriminado – algo que acontecia com mais frequência do que o público de hoje pode supor. Daí a frase de abertura de As Aventuras de Auggie March ser tão discutida e significativa: "Sou americano, nascido em Chicago", dita pelo filho de imigrantes judeus Auggie March. A primeira tradução brasileira de uma das obras mais importantes de Bellow, este volume de As Aventuras de Auggie March inclui uma apresentação do ensaísta Christopher Hitchens, que o compara a outro clássico, O Grande Gatsby, de F. Scott Fitz­gerald. Nas palavras de Hit­chens, foi Bellow que tornou possível a existência de um Philip Roth, ou de um Woody Allen. (IBN)

Livro 2

Teoria da Viagem

Michel Onfray. L&PM Editores. 112 págs. R$ 30. Filosofia.

Este ensaio é uma análise empolgante dos motivos que nos levam a viajar. O pensador francês Michel Onfray, autor de Contra-história da Filosofia (WMF Martins Fontes), explica que desde tempos bíblicos as pessoas se dividem em dois grupos, os que se identificam com Abel (o pastor, ou "nômade") e os que tendem ao lado de Caim (o agricultor, ou "sedentário"). "Os primeiros amam a estrada, longa e interminável, sinuosa e ziguezagueante; os segundos se comprazem com a toca, sombria e profunda, úmida e misteriosa", escreve o autor. Cedo ou tarde, é preciso se decidir entre um dos dois. Para Onfray, os viajantes respondem a um chamado muito íntimo, provavelmente inconsciente. Ao contrário do que se pode pensar, não se escolhe os destinos de viagem, são os destinos que escolhem o viajante. "Existe sempre uma geografia que corresponde a um temperamento. Resta descobri-la." Os textos são organizados em capítulos que abordam o antes, o durante e o de­­pois da viagem, com seus "entremeios". Um viajante de verdade, procura informações sobre o lugar que vai visitar, mas as abandona assim que chega ao destino, para não deixar que a experiência de outros interfiram na sua própria. O texto trata ainda de temas como a angústia de viajar sozinho e o fato de a fadiga da estrada exarcebar as "verdadeiras naturezas" do viajante. (IBN)

Publicidade

Livro 3

Outras Notas Musicais

Arthur Nestrovski. Publifolha. 592 págs. Preço médio: R$ 45. Crítica musical.

Arthur Nestrovski nos devolve shows e concertos a que não fo­­mos, mas que o compositor e crí­­tico musical presenciou e en­­volveu com seu ponto de vista na compilação de textos Outras Notas Musicais. Lendo seus escritos, urdidos com conhecimento técnico, sensibilidade artística e bom humor, somos transpostos para 1999, como cúmplices do encontro de João Gilberto e Caetano Ve­­loso no Credicard Hall. "Caetano Veloso é um cantor que vai se entregando para o espaço. Canta para fora, com a naturalidade do sol. João é o oposto: quando co­­meça a cantar, a música vol­­ta para dentro, na direção do que tem de mais calado", anota Nestrovski.

Em outro texto curto, define a interpretação de A Sagração da Primavera, de Stravinsky, feita pela Osesp de John Neschling, como um "cataclisma sonoro", que o faz considerar este concerto a primeira apresentação "válida" da obra de brasileiros para brasileiros.

Publicidade

O volume reúne 333 resenhas curtas, publicadas ao longo da última década em veículos como a Folha de S.Paulo. Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque, Nelson Freire, Zhu Xiao-Mei, Chopin: a seleção é vasta e variada, e oferece um contato íntimo com a música que pode trazer tanto prazer quanto a fruição auditiva. (LR)

CD1

Ao Vivo no Teatro Santa Rosa

Baden Powell. Biscoito Fino. PREÇO MÉDIO: R$33,90.

Em 1966, Baden Powell lotou por cinco meses o Teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro. Acom­­pa­­nhado por um trio (piano, contrabaixo e bateria) liderado por Oscar Castro Neves, o show do violonista virou LP de sucesso. Mais de 40 anos depois, o fantástico registro chega em CD pela Biscoito Fino.

Publicidade

Baden Powel é gênio e demonstra sua virtuose nas dez músicas que compõem o disco, uma obra de arte simples e essencial. "Be­­rimbau" (parceria com Vinicius de Moraes), abre o álbum de forma arrebatadora. Há mais seis parcerias com o poetinha (incluindo "Valsa de Eu­­rídice" e "Consolação"). "Tem­­po Feliz" é a única que traz voz, do próprio Baden. Após "Samba de Uma Nota Só", que escreveu com Tom Jobim, ouvem-se gritos entusiasmados da plateia, insandecida após uma demonstração rara do melhor que um instrumentista pode oferecer. Seu violão silencia poucas vezes e, quando isso acontece, dá vontade de levantar, se juntar ao público e aplaudir junto.(CC)

CD2

The Fountain

Echo & The Bunnymen. Ocean Rain. Importado. Preço médio: U$18.

Enquanto Ian McCulloch tem um fiapo de voz, mas continua cantando, o guitarrista Will Sergeant, parceiro desde o início do grupo, está mais afiado do que nunca. Mas o destaque em The Fountain, 11.º disco de estúdio dos britânicos do Echo & The Bunnymen, é a produção de John McLaughlin, conhecido por trabalhar com boy bands norte-americanas e grupos pops ingleses. Foi a receita encontrada pela banda, na estrada há quase 30 anos, para não definhar como a voz de seu frontman.

Publicidade

Tanto que o single "Think I Need It To", que abre o disco, revela um Echo em ótima forma. A música é acessível, empolgante, re­­cheada de efeitos nas guitarras e com bateria vigorosa. "For­­got­­ten Fields" é quase um hino, com melodia apoiada em ótimas guitarras que lembra Doves e Snow Patrol. O álbum continua coeso com a "smithniana" "Do You Know Who I Am" e com a singela "Shroud of Turin".

"Life of 1.000 Crimes", a melhor do disco, traz Chris Martin (Coldplay) ajudando Ian nos vocais. Funciona. O disco termina com "The Idolness of Gods", uma balada ao piano que lembra o clima de "Ocean Rain", de 1984. Nem de longe é o melhor disco dos Bunnymen, mas merece ser ouvido. (CC)

DVD

Infâmia

EUA, 1962. Direção de William Wyler. Versátil. Preço médio: R$ 37,50. DRAMA.

Publicidade

Até hoje citado como um dos primeiros filmes de Hollywood a abordar o tema da ho­­mossexualidade, Infâmia é o controverso remake de um filme que o próprio William Wyler (de Ben-Hur) já realizara em 1936, com Mi­­riam Hopkins e Mer­­le Oberon. Na época, em virtude do Código Hays, vi­­gente na indústria, o tema – já presente na peça de Lilian Hellman que originou o longa – não podia ser abordado.

A trama se passa numa cidadezinha do interior dos EUA, onde uma garota relata o que pensa estar acontecendo: um caso amoroso entre duas professoras (Audrey Hepburn e Shirley Mc­­Laine) da escola em que estuda e acaba desencadeando uma caça às bruxas. Embora não tenha feito sucesso, o filme foi aos poucos sendo resgatado do esquecimento pela crítica e pelos esudiosos de cinema e hoje é considerado um dos melhores e mais complexos títulos na ampla obra de Wyler.

Há quem enxergue em Infâmia traços de homofobia, por retratar o lesbianismo de forma algo doentia e angustiada demais. Essa leitura, todavia, o simplifica demais, já que o foco central da história é o poder devastador do preconceito. (PC)