Tempo vai, tempo vem e Charles Michael Kittridge Thompson IV, mais conhecido como Frank Black (ou Black Francis quando lidera o quarteto Pixies) continua entre os grandes compositores e letristas da cena roqueira mundial, não apenas entre os nomes de sua geração – ele já passou dos 40 –, mas entre os novos grupos que pipocam a cada semana, muitos deles inspirados pelas canções do guitarrista nascido em Boston e formado em Antropologia. Responsável pela grande maioria das canções dos Pixies – o álbum Bossa Nova (1990), por exemplo, foi inteiramente composto por ele – Frank Black seguiu carreira-solo após o rompimento do quarteto, em 1993, lançando álbuns tão bons quanto os da banda que mantinha ao lado da baixista Kim Deal, do guitarrista Joey Santiago e do baterista David Lovering. Sozinho ou ao lado da banda The Catholics, Black manteve o estilo musical que mesclava pitadas de surf music com rock garageiro e letras baseadas em um imaginário surreal bastante pessoal.

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Com o avançar da idade e possivelmente inspirado pela bem-sucedida turnê que marcou a reunião dos Pixies – a banda fez seu único show latino-americano em Curitiba, em 2004 – Frank Black parece ter "sossegado" musicalmente. Em seu penúltimo álbum, o elogiado Honeycomb, 11.º de sua discografia-solo, Black se trancou em um estúdio de Nashville, cercado de músicos veteranos, dedicando-se ao gênero alt-country (algo como country alternativo) em canções marcadas por arranjos bem elaborados e gravações cristalinas.

Eis que, em junho deste ano, o guitarrista resolveu lançar o que poderia ser chamado de "versão do diretor" de Honeycomb, caso este fosse um filme, não um álbum. De volta a Nashville e novamente contando com a presença de um extenso dream team de músicos respeitadíssimos da cena soul de Memphis, Black lançou Fast Man Raider Man, álbum duplo, composto por 27 canções, entre elas algumas que ficaram de fora do disco anterior. O álbum, que acaba de chegar às prateleiras nacionais pela Deckdisc, é definido pela gravadora brasileira como "o mais novo e ambicioso disco-solo do vocalista do Pixies".

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Ambicioso? Pode até ser. Pretensioso? De forma alguma. Ao lado dos lendários guitarristas Reggie Young, Steve Cropper (considerado um dos melhores do mundo no gênero soul) e Lyke Workman (do The Catholics); dos baixistas Tom Petersson (da banda Cheap Trick) e Buddy Miller; dos bateristas Levon Helm (The Band), Simon Kirke (Bad Company) e Chester Thompson; além do pianista Spooner Oldham, Black realiza uma verdadeira obra-prima do rock contemporâneo.

Por partes, no primeiro disco, os destaques ficam por conta da balada roqueira "Johnny Barleycorn", cuja linha melódica, inegavelmente a cara de Frank Black, ganha ares sofisticados com discretos arranjos de metais. A base de piano que introduz a também lenta "Dog Sleep" surpreende ao unir-se a trumpetes e uma bateria de andamento soul, sem falar no dueto de Black com o cantor de honky-tonky Marty Brown na famosa canção folk irlandesa "Dirty Old Town".

Já a segunda parte de Fast Man Raider Man é para ser ouvida do ínicio ao fim, graças às excelentes "In the Time of My Ruin", "Down To You", "Highway to Lowdown", "Kiss My Ring", "Fitzgerald", "It’s Just Not Your Moment", "Fare Thee Well" e a melhor do álbum inteiro, "Elijah", todas candidatas a hits. Indicado para os fãs menos ortodoxos de Pixies e dos trabalhos iniciais da carreira-solo de Black. GGGG1/2