As palavras palpáveis no palco
A protagonista do espetáculo Daqui a Duzentos Anos, dirigida por Marcio Abreu, a convite do Ateliê de Criação Teatral ACT, é a palavra.
Dois anos após a pré-estréia do espetáculo no Festival de Teatro de 2005, o público curitibano vai poder saborear a fruição da narrativa de Tchekhov no palco, sem adaptações. A peça retornou ao cartaz ontem, no próprio ACT, após uma longa temporada de apresentações pelo país.
A interpretação de Luis Melo que atua ao lado da musicista Edith de Camargo e de André Coelho , rendeu-lhe o Prêmio de melhor ator da Associação Paulista dos Críticos de Arte APCA.
O espetáculo é uma adaptação de três contos de Tchekhov: "O Amor", "O Caso do Champanhe" e "A Brincadeira". A montagem é fruto de uma longa pesquisa com a palavra, iniciada em 2004, por um grupo de estudos sobre o autor do ACT. "Nós estamos pegando a palavra de frente, de cara, por inteiro. Tchekhov é um mestre absoluto na mágica de criar um mundo palpável com a palavra", conta Melo.
O resultado é a valorização da palavra combinada ao trabalho do ator, que se revela pela redescoberta da oralidade. Mais informações no roteiro.
Há sete anos, o jovem dramaturgo Fernando Ceylão escreveu uma comédia inspirada na mãe de uma ex-namorada, que fazia de tudo para que a filha fosse famosa. Para o papel da mãe obcecada, ele tinha em mente Susana Vieira.
No ano passado, a atriz estava em busca de uma peça para protagonizar. "Li vários textos, inclusive de peças que já havia encenado. Quando vi o material de Fernando Ceylão, foi empatia imediata. Ele é um autor jovem, que vê a vida com olhar crítico", conta.
Faltava encontrar uma jovem atriz para fazer o papel da filha. Após alguns testes de seleção, a melhor opção foi Bárbara Borges, ex-Paquita que contracenou com Susana na novela Senhora do Destino, como a personagem Jennifer.
Em cartaz desde outubro do ano passado, o espetáculo Namoradinha do Brasil já foi apresentado em diversas cidades brasileiras. Por fim, chega a Curitiba para uma curta temporada hoje e amanhã, sempre às 21 horas, no Teatro Fernanda Montenegro. "É uma peça para todos os públicos. As crianças adoram", conta Susana, que atribui a presença de uma platéia infantil à presença da ex-paquita.
A história beira o tragicômico. A mãe, Ragilda, vive em função do sucesso da filha, Viviane. Ao longo da trama, suas tentativas para inserir a garota no "mundo dos famosos" vão ficando cada vez mais engraçadas e, ao mesmo tempo, assustadoras. "A mãe é louca", diz Susana.
Para ela, a comédia escrachada também é uma crítica à ilusão de que a carreira artística traz dinheiro fácil. "Muitas pessoas acham que só no show biz vão ser amadas, endeusadas. Antes, alguém era célebre por motivos justos. Hoje, não é preciso esforço ou talento para ser celebridade", justifica a atriz, que está completando 40 anos de carreira.
Mais conhecida pelos papéis dramáticos, no teatro e na televisão, Susana Vieira faz o público dar boas risadas. "Não sou nenhum Renato Aragão, mas uma mulher como essa não pode mesmo ser levada a sério", comenta.
O peso dramático da relação entre mãe e filha equilibra o riso. "As eternas questões familiares sempre fascinaram e impulsionaram a dramaturgia universal", diz o autor e diretor Fernando Ceylão.
E, no fim, Ragilda consegue o quer? Susana dá a dica: "Ceylão me disse que sua ex-namorada hoje faz sucesso".
Serviço: Namoradinha do Brasil. Teatro Fernanda Montenegro (R. Cel. Dulcídio, 517 Shopping Novo Batel), (41) 3224-4986. Hoje e amanhã, às 21 horas. Ingressos a R$ 40 e R$ 20 (estudantes).
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