A indicação do autor do livro partiu do marido, Fernando Henrique Cardoso: "Ruth gostava dele, o perfil que ele escreveu na Vogue a emocionou e a fez sorrir; por meio dele, recuperou a cidade que lhe parecia perdida." Foi o sinal verde para Ignácio de Loyola Brandão iniciasse o trabalho de pesquisa até finalizar "Ruth Cardoso: Fragmentos de Uma Vida" (Globo), que será lançado hoje à noite, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
Antropóloga (preferia ser tratada assim a primeira-dama), Ruth Cardoso morreu em junho de 2008, aos 77 anos. Foi uma das primeiras a perceber a emergência dos movimentos sociais que abrigavam diversidades, como feministas, étnico-raciais e de orientação sexual. E, na fase de montagem do governo FHC, idealizou o programa Comunidade Solidária.
"Este é mais um longo perfil do que uma biografia", explica Loyola que, araraquarense como a perfilada, demorou mas cultivou uma relação mais próxima com ela. "Retrato alongado, com detalhes que a maioria desconhece. A Ruth dos bastidores, a mulher por trás da catedrática, da doutora, da primeira-dama, da feminista."
De fato, o livro é recheado de boas histórias, tanto da formação profissional como curiosidades pessoais. É o caso, por exemplo, do momento em que Ruth conheceu o futuro marido, com quem se casou em 1953. A partir de suas entrevistas, Loyola descobriu também novas facetas da profissional. Para o historiador Jorge Caldeira, "Ruth teve a visão de que antropologia não era só para estudar a cultura dos outros, mas para estudar a sua própria cultura com estranhamento". Com isso, analisou movimentos sociais até então desprezados, ajudando a uma reformulação do setor de Ciência Política.
Do ponto de vista pessoal, Loyola reforça a fama de reservada. "Ela se abria pouco", comenta Regina Meyer, amiga íntima. "Ruth imaginava que entendêssemos seus subentendidos, silêncios. Nunca deixava ultrapassar certos limites." Sobre o poder, Ruth era irônica: "Você entra em um espaço, cheio de figuras do primeiro ao último escalão, olha para o teto e comenta como quem não quer nada: puxa, não tem uma vaca neste teto? No dia seguinte, ao entrar no salão vai descobrir que alguém colocou uma vaca no teto."
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