• Carregando...
“Faço uma música brasileira contemporânea, de agora. Dialogo com muitas referências que se diluem no trabalho. Há a presença de muita coisa, mas não de maneira definitiva. Ela fica em uma zona indefinida.”Lucas Santtana, músico. | Daryan Dornelles/Divulgação
“Faço uma música brasileira contemporânea, de agora. Dialogo com muitas referências que se diluem no trabalho. Há a presença de muita coisa, mas não de maneira definitiva. Ela fica em uma zona indefinida.”Lucas Santtana, músico.| Foto: Daryan Dornelles/Divulgação

Lucas Santtana lançou um dos discos mais elogiados de 2012 no Brasil. O Deus Que Devasta Mas Também Cura, quinto álbum do cantor, compositor e produtor baiano radicado no Rio de Janeiro, reúne os melhores atributos de sua geração, reconhecida nacional e internacionalmente pelo aprimoramento que vem fazendo na sonoridade da música popular brasileira. Entre seus pares estão Céu, Curumin, Kassin e Gui Amabis – não por acaso, alguns dos nomes aglutinados pelo disco e sua lógica moderna de criação.

Colaborativo, traz bases gravadas por instrumentistas de ponta, que têm seus próprios projetos autorais. Universal, extrapola a caduca classificação em gêneros musicais, diluindo ritmos brasileiros, jamaicanos, africanos e quaisquer outras referências, sempre impregnadas umas das outras. Contemporâneo, faz do uso de samples, ambientes e elegantes texturas eletrônicas alguns de seus principais elementos no conceito de música pensada por "camadas", em que os sons vão sendo acrescentados posteriormente aos arranjos, como que "vestindo" e dando profundidade às faixas. No caso de O Deus..., são os samples de obras sinfônicas de Beethoven, Debussy e outros que costuram algo mais próximo a um conceito musical, embora trate-se do primeiro trabalho de Santtana em que as canções – confessionais e, por sinal, ótimas – surgiram antes da ideia do disco.

O ponto de partida foi a bela faixa-título, inspirada em uma das piores tempestades da história do Rio de Janeiro, que aconteceu em 2010, no mesmo dia em que Santtana se separou e deixou a casa em que vivia com a mulher. "Foi a primeira vez que um disco nasceu por causa de um conjunto de canções que fiz em uma mesma época [cerca de dois meses]. Elas têm o caráter cronista e descritivo das coisas que estava vivendo e sentido. Senti uma unidade e vi que ali tinha um disco novo", conta o músico, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. O tom pode ser encontrado em faixas como "É Sempre Bom Se Lembrar", sobre o tempo do amor; "Para Onde Irá Esta Noite", que narra o encanto de um encontro que não "não pode ser"; ou em "Se Pá Ska S.P.", um retrato da solidão em São Paulo.

"É um disco com que as pessoas têm se identificado muito, porque narrei uma experiência pessoal. Mas é uma experiência pela qual muita gente já passou na vida. Recebi vários e-mails em tom pessoal, de pessoas falando de suas vidas, algo que nunca tinha rolado", afirma.

Sem Nostalgia

Mas é o disco anterior que, ao menos desde os últimos dias, vem concentrando a atenção de Santtana. Sem Nostalgia, que saiu no Brasil em 2009 e pode ser baixado gratuitamente, junto com a íntegra da discografia de Santtana, no site oficial do músico (www.lucassanttana.com.br), foi lançado no fim de 2011 na Europa e teve ótima repercussão por lá. O músico aproveita o momento com uma excursão de 12 shows na França, Inglaterra, Suíça, Alemanha, Holanda e Irlanda. Com um conceito de voz e violão experimental que subverte o cânone da música brasileira com mashups, sons processados, filtros, técnicas de gravação inovadoras e ricos ambientes sonoros, o disco foi citado positivamente pela maioria das publicações sobre música mais importantes da Europa – como o jornal francês Libération, que o elegeu melhor álbum estrangeiro de 2011. Uma boa oportunidade para redescobri-lo no Brasil também – algo que ainda deverá ser feito por muita gente, e com razão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]