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Teatro

Lúdico manual da vida

Caçado em campo, Dinelson reclama de violência dos zagueiros | Rodolfo Bührer / Gazeta do Povo
Caçado em campo, Dinelson reclama de violência dos zagueiros (Foto: Rodolfo Bührer / Gazeta do Povo)

Manual de Barro (Sem Palavras) é uma obra aberta. Crianças e adultos que forem ao Teatro de Bonecos Dr. Botica assistir ao espetáculo, neste sábado e domingo, correm o risco de achar que não o compreenderam totalmente. Mas, essa é a intenção de seu autor, o paulista Marcos Moura, radicado em Campo Grande há sete anos e "mato-grossense de coração". "É um teatro do inconsciente. As imagens lançadas ao público servem para cada um montar sua própria história", comenta.

Como o próprio nome diz, ninguém no espetáculo dá um pio – ao menos com palavras, pois as onomatopéias e o "gramelot", uma língua inventada, são freqüentes. Os sons fazem parte da trilha sonora criada ao vivo e de uma só vez pelo multiinstrumentista Toninho Porto.

A montagem de bonecos, que também utiliza máscaras e outros objetos, é inspirada no poema "Introdução a um Caderno de Apontamentos", do escritor mato-grossense Manoel de Barros, que retrata a despedida da vida de um velho louco. Mas, como adaptar o texto de um poeta sem usar sequer uma palavra, instrumento essencial deste ofício? "Aproprio-me da estética do poeta. Ele fala de objetos em desuso, coisas ínfimas às quais ninguém dá valor. O espetáculo dá vida a estes objetos", revela o diretor.

Há três protagonistas: a Velhice, um poeta louco que quer se lembrar da infância antes de morrer; a Infância, um menino que mergulha em um baú que pode simbolizar a mente do velho (mas, isso depende do que o espectador quiser entender); e o Andarilho, o elo entre a infância e a velhice.

"O poeta louco é o próprio Manoel, pois não é comum a maneira como ele vê o mundo". À medida que escreve uma espécie de "manual da vida", o velho vai lembrando de momentos de sua infância. Como fez o escritor ao assistir o espetáculo em fevereiro – a peça estreou em novembro passado. "Ele disse que tomou um banho de sua infância", lembra Moura.

Manoel de Barros é obcecado pelos temas da velhice e da infância. "Ele disse uma vez que não viveu a mocidade, apenas a infância e a velhice", diz o diretor. Para Moura, que é leitor do poeta alemão Reiner Maria Rilke, é preciso olhar para dentro para encontrar a própria essência – que é a infância.

A Infância, representada pelo neto do velho louco, atira-se no baú e só consegue sair quando conhece a Consciência da Sabedoria. Aí, volta a encontrar o velho. "A peça narra a visão da criança diante da morte do avô. Mas, a peça fala de vida, pois a morte deixa de significar sofrimento e perda para ser assumida como uma nova fase", completa Moura.

Serviço: Manual de Barro (Sem Palavras). Teatro de Bonecos Dr. Botica (Av. Sete de Setembro, 2.775 – Shopping Estação), (41) 3322-2775/3233-5722. Inspirado em poema de Manoel de Barros. Direção de Marcos Moura. Com a Arte Riso Cia. de Animação. Amanhã e domingo, às 15 horas e às 17 horas. Ingressos a R$ 12 e R$ 6 (meia).

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