A palavra coragem ainda é pouco para definir a temática tratada pelo diretor Nelson Baskerville em "Luis Antonio-Gabriela", que teve estreia cheia no domingo (1º), no Teatro do Sesc da Esquina. Haverá outra apresentação hoje, às 21 horas. Veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo.
Logo antes de se acomodar na poltrona, o espectador já tem ideia do que encontrará ao ler o texto de apresentação da peça distribuído na entrada. Baskerville lida com um pesado drama pessoal e escancara as piores feridas dentro da sua família. Tudo isso em um texto inteligente, com um interessante uso de recursos audiovisuais (o espetáculo é definido como um documentário cênico) e elenco estruturado. Não é à toa que ele foi premiado como melhor diretor na última edição do Prêmio Shell um dos mais importantes da área teatral.
O título da peça é o nome do irmão mais velho do autor. Com uma família rígida e desestruturada, Luis Antonio era agredido pelo pai por ser homossexual. Tanto ele como os irmãos definiam o lar (a família vivia em Santos, litoral paulista) como uma tortura em plena Ditadura Militar, eles diziam que não era "necessário sair da casa" para sentir na pele os terrores da época. Mas, o ponto mais tocante da peça é que Nelson, o "Nelsinho", era abusado sexualmente pelo irmão mais velho, e tinha pavor "de virar mulher."
O enredo do espetáculo tem como base os depoimentos de familiares, e é nesse ponto que fica bastante clara a boa atuação dos atores, que conseguiram captar a essência da personalidade tanto de Nelsinho como de seus irmãos.
Com conflitos cada vez piores, um dia Luis Antonio resolve sair de casa, o que é definido como um alívio, e vai morar em uma pensão de Santos onde se instalavam os travestis da cidade é aí que começa a sua transformação em Gabriela.Passados poucos anos, a família tem a notícia que ele fora embora do país morar na Espanha. Depois de 20 anos sem contato e com rumores de que havia morrido a irmã Maria Cristina o localiza em Bilbao (Espanha), em 2002, onde ele era um travesti famoso por suas performances. Com saúde bastante debilitada, Maria Cristina e agora Gabriela passam a ter um contato mais próximo até 2006, quando Gabriela morre.
Reconhecimento
Definido pelo diretor em coletiva para imprensa no fim de semana como um "sucesso underground" (a peça estreou em Santos e já percorreu dez cidades), Luis Antonio-Gabriela conquistou diferentes públicos e emocionou a plateia, que não conseguiu segurar o choro na cena final. No todo, o espetáculo é um pedido de desculpas de Baskerville, que conta que não soube lidar com todo o drama e a situação, e também de toda a família, que se reconhece em cena e assume seus atos.
Portanto, não espere uma história "bonitinha", onde no final tudo dá certo. Luis Antonio-Gabriela expõe o íntimo, que em sua maioria, guarda o pior do ser humano.
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