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 | Cristiano Martinez / Gazeta do Povo
| Foto: Cristiano Martinez / Gazeta do Povo
  • O trabalho do luthier começa com uma boa madeira e acompanha o perfil de cada instrumentista. As imagens mostram alguns dos passos na construção artesanal de uma guitarra

Quando se fala em música, muitos podem pensar na melodia ou na letra de uma canção popular, ligada à figura de um cantor carismático, ou mesmo a uma banda genial. Poucos vão se lembrar primeiro dos instrumentos musicais que deram vida para a tal canção de sucesso.

Você deve ter ouvido falar do estilo inconfundível de tocar do guitarrista inglês Eric Clapton, compositor de músicas como "Layla" e "Cocaine", imortalizadas por sua guitarra da marca Fender. Apelidada de "Blackie", ela ficou tão famosa que, quando foi posta em leilão, alcançou a cifra de quase US$ 100 mil (Clapton gastou apenas US$ 100 quando a montou nos anos 1970).

Por trás desse instrumento existia um homem chamado Leo Fender. Ele criou o modelo stratocaster, copiado à exaustão e admirado em todo o mundo. Mais do que um empresário com visão de mercado, já que até hoje é uma das marcas mais valorizadas no meio musical, ele era antes de tudo um luthier; uma espécie de Antonio Stradivari (1648-1737) das guitarras, em referência ao criador do célebre violino Stradivarius.

A palavra de origem francesa lutherie, ou luteria na versão em português, define a fabricação ou manutenção de instrumentos musicais à base de cordas. Guitarras, cavaquinhos, violões, violas, violinos, entre outros, podem ser construídos de forma industrial, cuja produção em série padroniza o instrumento; ou de modo artesanal, tornando-se único nas mãos de um luthier.

É o caso do artesão Marcelo Valedio, único profissional do ramo trabalhando em Guarapuava, a 250 km de Curitiba. Ele conta que tudo começou com um contrabaixo, há oito anos. À época, ele queria ser músico e não tinha como comprar um instrumento de qualidade, então decidiu construir um com as próprias mãos. Desse modo, acabou reencontrando as raízes, já que vinha de uma família de artesãos de madeira – seu avô havia sido construtor de caixões.

De lá para cá, Valedio estudou e se aperfeiçoou na luteria, pois não basta apenas gostar de música para ser um bom profissional desse meio. "A luteria envolve engenharia, mecânica, marcenaria e um pouco de matemática. Além de ter o conhecimento de música, é preciso conhecer muito bem a parte de engenharia, a parte de construção, peso e diâmetro", explica.

Madeira

Assim como em outras profissões, o luthier depende de matéria-prima para produção de guitarras, contrabaixos e violões. No caso, a madeira – um artigo cada vez mais raro em tempos de consciência ecológica e sociedade sustentável.

A busca pela madeira perfeita levou Valedio a morar no estado do Maranhão, onde ainda existem variedades difíceis de serem encontradas no sul do país. "Ao contrário do Paraná, o Maranhão e o Pará têm todas as espécies à disposição. O que acontece: nós, luthiers, não somos como uma marcenaria ou indústria de móveis, que usam madeira em grande escala. Nós usamos pequenos pedaços. Assim, no Maranhão, tive a oportunidade de usar aquele material que poderia virar lenha ou lixo para construir partes de instrumento", diz.

Arte x Indústria

Feitos manualmente, os instrumentos construídos por um luthier são peças únicas, que se adaptam ao gosto do freguês. Para Valedio, todo esse processo é o mesmo que produzir arte, em contraposição ao modo industrializado. "A luteria é uma arte, sim. Pelo seguinte: cada peça é feita individualmente, diferenciando-se da indústria. O luthier constrói de maneira manual, adaptando o instrumento ao perfil de cada músico. Em suma, apesar dos modelos parecidos, cada instrumento feito por um luthier é uma peça única", diz.

Fábrica

Irineu Mendes da Silva concorda com o artesão guarapuavano. Luthier desde 1964, ele trabalha há mais de 30 anos na Del Vecchio, tradicional fábrica paulistana de violões. Silva conta que, no passado, a Del Vecchio era uma empresa que produzia instrumentos musicais em grande escala. Como era um processo industrial, os violões costumavam ter uma qualidade inferior, já que a fabricação precisava ser rápida e automatizada.

Atualmente, a Del Vecchio mudou para a manufatura artesanal. "Com a produção de apenas 20, 30 instrumentos por mês, conseguimos estabelecer um padrão de qualidade único, igual ao dos luthiers. Voltamos às origens da fábrica, quando Angelo Del Vecchio abriu, em 1903, no Largo Riachuelo, em São Paulo, a primeira fábrica da Del Vecchio", explica.

Músicos

Se a batida de um violão é tão importante para estilos como a Bossa Nova, o mesmo pode ser dito de figuras como Marcelo Valedio e Irineu Mendes da Silva. Graças a profissionais como eles, é que foram criadas peças únicas dentro do meio musical.

"A gente pode até saber trocar um jogo de cordas e fazer algumas coisas num violão, por exemplo. Mas o luthier é o cara que vai a fundo na manutenção de um instrumento", explica Sérgio da Matta, guitarrista e produtor musical de Guarapuava.

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