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A soprano Anna Pirozzi interpreta Lady Macbeth com os curtos e retesados movimentos solicitados por Robert Wilson | Roger H. Sassaki/Divulgação
A soprano Anna Pirozzi interpreta Lady Macbeth com os curtos e retesados movimentos solicitados por Robert Wilson| Foto: Roger H. Sassaki/Divulgação

O recém-reformado Theatro Municipal de São Paulo, com sua mescla de detalhes arquitetônicos inspirados no renascentismo, barroco e art noveau parecia não comportar todo o neon proposto por Robert Wilson para sua montagem de Macbeth, de Giuseppe Verdi.

A peça de Shakespeare foi transformada em ópera pelo italiano em 1847, sublinhando a importância do estímulo ambicioso de Lady Macbeth no desenrolar da trama e dedicando-lhe árias como "Ambizioso Spirito".

Com mudanças radicais de cena a cada poucos minutos, Wilson, que é um dos encenadores vivos mais respeitados de todo o mundo, trouxe em uma série de quatro apresentações, encerrada na última quinta-feira, um espetáculo de brilho gritante, que desenha formas hipnóticas alternadas com sombras e escuro.

As luzes criadas por fachos imensos fluorescentes por vezes vinham em sincronia com a música, algo mais comum em shows de rock. A ribalta fosforescente em contato com a moldura rococó do teatro manteve o "choque" em alta nesta experiência que o diretor estreou no Brasil e leva em 2013 a Bolonha, na Itália.

Dentro desse contorno luminoso, por vezes retilíneo – criando faixas verticais ou horizontais –, por vezes oblíquo, sugerindo o punhal com que o casal alveja o rei escocês de quem usurpa o trono, Wilson solicita aos solistas que se movimentem numa coreografia mínima. As mãos espalmadas estão sempre retesadas, longe do corpo. O caminhar endurecido, somado à maquiagem branca e aos figurinos que sugerem quimonos, lembra o kabuki japonês, uma das influências declaradas do mestre, além de Buster Keaton e Charles Chaplin.

Os momentos tensos da decisão pelo assassinato do rei e a subsequente angústia que assola o casal são alternados com belíssimas entradas de seres que povoam o universo de Shakespeare, sejam eles humanos, fantasmas ou animais.

Também numa alternância que surpreende o olhar, o coro ganhou múltiplas formas. A cargo do coral lírico do Municipal e embalado pela Orquestra Sinfônica da cidade, o coro encarna as feiticeiras que entregam presságios enganosos a Macbeth; faz também os guerreiros de ambos os lados do embate que se ergue entre usurpadores e detentores do trono por direito.

A performance musical do coro só poderia ser melhorada por uma excelência de movimentos que não se deu. Da mesma forma, a entrada de alguns dos elementos visuais foi indecisa, imprecisa, contrariando tudo o que Wilson prega em seu teatro que valoriza a forma.

Detalhes que não diminuem uma produção minuciosa e ousada, cujos esquetes foram incluídos no programa como um brinde ao espectador.

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