Há uma profusão de gays em novelas e seriados na tevê, mas essa quantidade não tem se traduzido em diversidade ou sutileza. Do produtor de eventos Roni (Leonardo Miggiorin), da novela das nove Insensato Coração, a Áureo (André Gonçalves), filho do prefeito vivido por Ary Fontoura em Morde & Assopra , folhetim das 19 horas da Rede Globo, a maior parte dos personagens homossexuais que está no ar é caricata e afetada até não poder mais.
O cabeleireiro Nelson, vivido por Jorge Fernando em Macho Man, seriado exibido sexta-feira à noite pela Globo, não foge a essa regra. Ainda que, em tese, ele tenha deixado de ser gay. Depois de sofrer um pequeno acidente, o personagem passa a se interessar por mulheres e, para se adaptar à nova realidade, precisará do apoio de sua melhor amiga, Valéria, uma mulher solitária e ex-obesa vivida por Marisa Orth.
Reza o anedotário de mesa de bar que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem, uma vez cruzada a fronteira da homossexualidade, fazer o caminho inverso e voltar a ser "hétero". Se isso é verdade ou não, não vem ao caso aqui. Mas o fato é que, no planetinha cômico fantasioso dos roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado, basta um choque elétrico ou uma pancada na cabeça para que a orientação sexual de um indivíduo mude de lugar. Mas esse não é o maior problema de Macho Man.
Para ser engraçado, Nelson pode até passar a sentir atração física por mulheres, mas ele não pode jamais deixar de ser efeminado e reafirmar todos os clichês possíveis de um suposto comportamento gay. Pelo contrário: tudo tem de ser elevado à enésima potência e a situação absurda proposta pelo programa se torna ainda mais hilária para o gosto médio.
Sucesso de audiência, a primeira temporada de Macho Man terá 14 capítulos. Se vai render uma segunda fornada, ainda não se sabe. Fica no ar, entretanto, uma indagação: será que os roteiristas ainda não se deram conta de que há gays e lésbicas de todos as cores e tamanhos, e limitá-los a um único modelo, ainda que na posição de protagonistas, não deixa de ser preconceituoso e pode alimentar, sim, ainda mais a homofobia? Algo a se pensar.
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