Juntas no elenco do filme Vendo ou Alugo, que estreou neste fim de semana nos cinemas, Marieta Severo e Sílvia Buarque discordam um pouco sobre os rumos da interpretação no Brasil. Para a mãe, os mais jovens dão um show porque nasceram cercados por dramaturgia. A filha já diferencia quem se prepara de verdade daqueles para quem um papel novo significa mais horas de academia. As duas atrizes conversaram separadamente com a reportagem da Gazeta do Povo no Rio de Janeiro, durante o lançamento do filme:
A nova geração de atores é mais ou menos profissional que as anteriores?
Marieta: Se eu for pensar no desenvolvimento do audiovisual nesses anos todos, é uma coisa avassaladora. A qualidade de atuação no Brasil também subiu muito. Hoje em dia qualquer criança sabe interpretar. É uma coisa que a gente via no cinema americano, qualquer um que entrava criança falar, interpretar. Minhas netas brincam de fazer filminho o tempo todo. Tem quem filma, quem faz roteiro... a dramaturgia hoje é muito familiar.
Sílvia: Sinceramente, sou uma atriz de 44 anos, e, de maneira geral, percebo que o preparo está diminuindo. Ouso dizer que a geração anterior à minha ainda estudava mais. Mas, para muita gente mais nova, percebo que o preparo está passando por mudar o cabelo e ir na academia. Para mim o estudo é o normal, não é nada extraordinário, mas sou de uma geração em que, se ia fazer Ibsen, tinha que ler as peças do Ibsen...
Mas, como a profissão acabou se proliferando, e hoje as pessoas ganham bem há 20, 30 anos, não ganhavam , e tem glamour, tem tanto ator que eu não generalizaria de jeito nenhum. Vejo muita gente de 20 e poucos anos séria, culta, e que vai procurar outras coisas. Estou falando desse senso comum, que não é mais tanto o de valorizar o estudo.
Como é seu preparo para viver um novo personagem?
Marieta: Nem sempre é possível participar ativamente dessa construção. Muitas vezes, o roteiro já vem com o personagem mais que definido. Mas cada ator é único, só ele fará aquele personagem daquele jeito. Quando me interessei pelo roteiro de Vendo ou Alugo, ele ainda proporcionava espaços de mudança, estava sendo trabalhado e retrabalhado. Trocamos ideias e a Betse [de Paula, diretora] foi incorporando.
Sílvia: Não vou nem contar o que eu li... eu vivo uma antropóloga. O preparo tem que ter respeito pelo profissional retratado, porque sem isso a atuação fica risível. Na hora de atuar você esquece o preparo, mas fica com esse "recheio".
Marieta, como é fazer um papel oposto à Nenê, de A Grande Família?
Adoro fazer a Nenê. Acho que dificilmente vou ter carinho por um personagem na minha vida como tenho por ela, e pensar que vou deixar de fazer algum dia até me comove. São 13 anos, e ela é muito entranhada. Mas não faria nada que passasse perto dela no cinema. Foi ótimo poder fazer um personagem que não tem nada a ver com a realidade dela, pelo contrário: é uma mulher livre, leve e solta, que não tem nem teve compromisso com nada na vida, criou uma filha Deus sabe como... O que interessa é o prazer dela. Ela é muito irresponsável.
Inclusive, ela abre o filme num close, fumando maconha...
A droga não foi o que me chamou a atenção no filme nem no personagem. A minha geração puxou muito fumo, mas depois disso tudo ganhou uma conotação de violência. A maconha na vida da Maria Alice [personagem no filme] não tem consequência, porque ela só tem ideias ruins! A maconha não colabora em nada.
Quais são seus novos projetos?
Marieta: A Grande Família continua e estamos num ano muito criativo, com muitas mudanças de linguagem e de direcionamento de personagens. E estou ensaiando a peça Incêndios. O filme do mesmo texto foi candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro. É lindíssimo, conta uma história muito trágica, mas é quase um thriller, com texto do libanês Wajdi Mouawad. A estreia será na segunda semana de setembro, no Teatro Poeira, que divido com Andrea Beltrão há oito anos.
Sílvia: Não posso falar ainda sobre um novo projeto de teatro que tenho... Mas tenho convites para dois filmes: Língua Seca, de Homero Olivetto, e Montanha Russa, de Vinícius Reis, ainda em fase de captação.
Curitiba está na sua agenda?
Marieta: No ano que vem, com certeza. Imagina se dá para não ir a Curitiba? Há muitos anos a cidade é um polo teatral dos maiores do Brasil. Mesmo sem o festival: lembro de ir em 1978 com No Natal a Gente Vem Te Buscar. Sempre teve esse público bom para teatro e é impossível pensar em viajar com peça sem Curitiba e Porto Alegre. Para Incêndios houve uma sondagem do Festival de Curitiba.
A jornalista viajou a convite da Europa Filmes.
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